Material escolar: um assunto que nem sempre se encaixa

Por Adriana Vitória

É indiscutível. O Brasil definitivamente é um país que não tem nenhum comprometimento com a Educação.

Aqui, somos obrigados a colocar os nossos filhos em escolas particulares, com mensalidades que variam de 500 a absurdos milhares de reais porque, apesar dos altos impostos que pagamos, os governos das últimas décadas se esforçaram em deteriorar de tal maneira o ensino das escolas públicas que ficamos praticamente sem alternativa.

No começo do ano já sabemos, além da mensalidade e da taxa de rematrícula, também recebemos a lista de material escolar com itens que, muitas vezes, nossos filhos nem vão usar. Alguns dos materiais listados chegamos a nem conhecer.

Mas a coisa não para por aí, pois, além de todo esse abuso, e parece que já estamos acostumados com isso, ainda temos que gastar em torno de mil reais com apostilas, o que, na minha opinião, já é abuso demais!
Não sei nos outros Estados, mas no Rio a editora que reina no mercado é a FTD. Cada apostila gira em torno de noventa reais, enquanto um bom romance de 300 páginas custa, em média, quarenta e cinco reais.
Onde fazem estes livros? Será que são importados? Por mais que saibamos dos direitos autorais e outros recursos complementares disponibilizados online ainda não consigo deixar de me questionar sobre qual seria a margem de lucro nisso tudo. E reforço, eu mencionei uma editora, mas ela é só um exemplo do que acontece em escala nacional.

O pior de tudo isso é ver a atitude arrogante de pais que acham um absurdo a reciclagem desse material porque, embora se recusem a usar esses termos, pensam que aproveitar o material no ano seguinte para outra turma, é “coisa de pobre”. Não reciclar, sim, é pobreza de espírito e denota falta de compromisso com o equilíbrio ecológico em nosso planeta. Mas, claro! Bons exemplos vindos do chamado primeiro mundo são “fora de moda”, por isso continuamos sendo do terceiro mundo.

E me vejo falando sozinha quando reivindico o óbvio, porque nesta nação tupiniquim reivindicar também é coisa de pobre. E, enquanto a classe média assim entender, não só a Educação, mas todos os serviços essenciais do Estado estarão entregues às traças da corrupção, cabendo aos pobres infelizes que não conseguem custear tais serviços meras sobras, sujas e infectadas da miséria moral de quem nos governa.

Dá status gastar mil e duzentos reais em material escolar e é chique se calar diante dos absurdos.
Com certeza o dinheiro mudou de mãos, os valores éticos e morais foram invertidos e a Educação neste país virou coisa do passado. E, se me permitem uma última consideração, diria que aquele que pode, que tem voz e se cala, não se solidarizando com os seus, por mais que se julgue maior ou mais, mesmo que de tudo o que digo ache graça: ele também é traça.

Revisão de conteúdo: Nara Rúbia Ribeiro e Josie Conti

Adriana Vitoria

Mineira de alma e carioca de coração, a artista plástica, escritora e designer autodidata Adriana Vitória deixou Belo Horizonte com a família aos seis meses para morar no Rio de Janeiro. Se profissionalizou em canto, línguas e organização de eventos até que saiu pelo mundo sedenta por ampliar seus horizontes. Viveu na Inglaterra, França, Portugal, Itália e Estados Unidos. Cresceu em meio à natureza, nas montanhas de Minas, Teresópolis, Visconde de Mauá, e do próprio Rio. Protetora apaixonada da Mata Atlântica e das tribos ao redor do mundo, desde a infância, buscou formas de cuidar e falar deste frágil ambiente e dos seres únicos que nele vivem.

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