Uma homenagem aos meus pais e a todos que já sentem o peso do tempo.
Porque ele é implacável e passa pra todos nós…
Eu não tenho medo de envelhecer…
De perder o viço da pele, a firmeza do andar, a disposição de viver.
Eu não tenho medo de envelhecer…
De me cansar antes do tempo, de me resfriar a qualquer vento, de acordar ao amanhecer.
Eu não tenho medo de envelhecer…
De esquecer nomes e rostos, de falar dos meus desgostos, de sentar ao lado da solidão.
Eu não tenho medo de envelhecer..
De esperar de onde já não vem, de falar mesmo sem ter com quem, de fazer planos, alguns em vão.
Eu não tenho medo de envelhecer…
Da risada frouxa e sem motivo, da palavra que me foi esquecida, de me despedir, dia após dia, da vida.
O que me apavora é ter o sorriso vazio, o caminho escuro e frio e sentir nele a falta da mão do meu filho.
Me amedronta não mais sonhar, não ter a quem acarinhar, perder o brilho no olhar.
O medo que me consome, a mim e acho que a todo homem, não tem a ver com despedida.
O pavor é não ter pra onde correr e não mais me reconhecer, enquanto ainda houver a vida.