Por Josie Conti
“Um poema é a projeção de uma ideia em palavras através da emoção. A emoção não é a base da poesia: é tão-somente o meio de que a ideia se serve para se reduzir a palavras.” Fernando Pessoa
É, meus amigos, poesia não é coisa para qualquer um, não. É coisa de gente inteligente, gente criativa e sensível.
Sintetizar em versos curtos todo um contexto é trabalho complexo. O poeta vai lá, olha para algo e em 10 palavrinhas faz um verso que poderia arrebatar todo um capitulo de livro, senão o próprio livro. A poesia tem poder, é enigmática e atiça a fantasia. Desvendá-la exige atividades mentais nas áreas humanamente mais superiores do cérebro. Mas o poeta, assim como quem lê a poesia, tem olho treinado para sintetizar distâncias, desvendar a idade oculta das coisas, seus sentimentos, seus enigmas. É só ler uns versinhos e os amantes da poesia preenchem suas lacunas com seus desejos, ensejos e a própria biografia.
A poesia empresta sentimento e sentido ao mundo. Tem jeito não, o poema emociona, arrebata e escorre dentro da gente.
Abaixo, para estimular os sentidos, poemas de Paulo Becker justapostos com fotografias de Tom Chambers.
Me colocaram a guardar o fogo.
Sozinho no pátio.
Era Semana da Pátria?
Era Semana Farroupilha?
O simbolismo se desfez em cinzas.
O próprio fogo há muito jaz extinto.
Onde andará a professora Olívia?
Meus amigos Hilário e Adalberto?
A princesa Anelise? A Ângela cigana?
Grito ou riso nenhum corta o pátio deserto.
Só eu estou lá, de pé, guardando o fogo.
Fogos de artifício
no céu do papel
espocam e se apagam.
Cadê os poetas do nosso tempo?
Dos nossos sonhos, ossos, esperas?
Da nossa língua dividida em classes?
Jogam seu frio dominó?
Extraem faturas ou notas?
Voltaram ao parnasianismo?
Atarefados, compilam
manuais de esoterismo
e metafísicas sem dor?
Garimpam rimas pra vida
no dicionário de rimas?
Produzem releases, layouts?
Autografam? Infestam coquetéis?
Alagam livros e suplementos
com destroçamentos gratuitos?
Cadê os poetas, pergunto,
que possam nutrir nossas almas
com alguma emoção do mundo?
Poeminha à maneira de Emily Dickinson
Para a minha velhice
Só espero merecer
Um quintal para a horta
E tempo para escrever.
Se faltar a horta,
Bastará a memória
Dos dias bem vividos.
Manuel Bandeira, não eu, confesso,
escreveu o poema sobre a estrela,
que entre as colegas da escola me deu glórias de poeta.
Também de Bandeira, a declaração de amor
que fiz num bilhete para a Alice
– mas ela, insensível, não devia gostar de poemas…
De Bandeira, os versos torrenciais, dilacerados e alegres
sobre a alegre vida pungente,
que repercutiam no meu cérebro como numa câmara de ecos,
como eram invenção dele todas as verdades simples
que eu mesmo queria ter descoberto.
E, mais que meus, eram de Bandeira os suspiros
que eu dava, presa de futuras nostalgias,
humildemente pensando na vida e nas mulheres que amaria.
Não se brinca mais
quando a carne e os nervos se foram
e a faca raspa o osso
Como não tinha
um pintor expressionista
naquele instante
a atravessar a avenida?
Como não tinha
um fotógrafo que fosse?
Um repórter de tevê
com a câmera a postos?
Só cruzou por ali
um poeta novato
e registrou a cena
em versos telegráficos:
O anjo nu dormita
sobre sacos de lixo
na gaiota. A mãe
é tração animal.
Morte, minha princesa,
somos poeira de estrelas.
Vem deitar-te comigo.
O círculo se fecha.
Volto a ser o que eu era
antes de haver nascido.
PAULO BECKER graduou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e é mestre e doutor em Teoria da Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Leciona na graduação e no mestrado em Letras da Universidade de Passo Fundo. Participa das comissões organizadora e executiva das Jornadas Nacionais de Literatura e da coordenação da Jornadinha Nacional de Literatura. É roteirista e consultor de textos do programa televisivo infantil Mundo da Leitura, que integra, desde 2005, a grade nacional do Canal Futura e é retransmitido para 105 países pela Globo Internacional.
Blog do autor Meus demônios cantam
Seleção de Poemas Nara Rúbia Ribeiro
TOM CHAMBERS nasceu e foi criado em uma fazenda no país Amish de Lancaster, Pensilvânia. Tom completou um BFA em 1985 a partir de Ringling School of Art, Sarasota, Florida, com ênfase em design gráfico e forte interesse em fotografia. Por muitos anos, Tom trabalhou como designer gráfico, incluindo o design de embalagens e de revistas. Desde 1998, Tom dedicou-se a fotomontagem para compartilhar as histórias intrigantes não ditas, que refletem a sua visão do mundo e provocam sentimentos no espectador. Atualmente, Tom é representado por um número de galerias nos Estados Unidos e na Europa. Seu trabalho tem sido mostrado nacional e internacionalmente através de exposições individuais e coletivas, bem como em uma ampla gama de publicações impressas e online.
Site oficial Tom Chambers
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