Sonhei que o Estado era laico e formado de bom senso. Não havia sequer um único lugar, onde crenças imperavam acima do respeito ao próximo. Cadeiras estavam vazias porque entendemos a religião como movimento de fé, e não como uma fé que movimenta.
Sonhei que o crime maior era a falta da empatia. Deixamos de lado os assassinatos, a hipocrisia e o oportunismo vazio do individual. É no coletivo, na partilha de gestos e sentimentos que, no mais absurdo dos casos, geramos entendimento entre os cidadãos.
Sonhei que a falta de educação não era um problema físico. Não eram necessárias paredes de concreto para conceber conhecimento. Podíamos escolher quando e onde absorver e construir um pensamento crítico, cultural e espirituoso. Todos livres e sem seguidores de uma doutrina egocêntrica.
Sonhei que o amor era espaço a céu aberto. Fora da jaula dos gêneros, cores e sabores. Desde que se amasse, pouco importavam legendas e outras descrições encomendadas por tradicionalismos passados.
Sonhei, inclusive, sobre as diferenças. Elas não eram nada além de características biológicas, hereditárias e consequentes da natureza que nos cerca. No fundo, todos éramos acometidos por cumplicidade.
Sonhei e continuo sonhando. E mesmo que pareça tolo e sem sentido, persisto. Sigo munido dos versos e laços afetivos que não podem ser esvaziados por uma noite mal dormida.
Por isso ando com o coração de olhos abertos. Porque é nele que encontro sonhos pelos quais é imperativo acreditar.
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