Meu primeiro consultório: Reflexões sobre o início da prática clínica

Por Marcela Alice Bianco

A todo tempo muitos profissionais da área da Psicologia estão prontos para entrar no mercado de trabalho ou montar seu próprio negócio. Como psicóloga fico pensando na enorme quantidade de colegas que, recém-formados ou não, estão na expectativa de iniciar sua atuação na área clínica. Com certeza um desafio e tanto a ser enfrentado.

Isso me fez lembrar de quantas dúvidas, medos e inseguranças pairavam sobre a minha cabeça na época em que resolvi desbravar este caminho. Por isso, decidi compartilhar um pouco da minha vivência e quem sabe, através da minha história motivar aqueles que estão começando.

O primeiro consultório para quem quer seguir a carreira de psicólogo clínico é um grande sonho! Lembro de passar horas imaginando como seria minha sala, os primeiros pacientes chegando e de como seria a conquista do meu espacinho ao Sol.

Olhando para o passado, percebo que naquela época cometia o meu primeiro erro: não via o consultório como um negócio, mas como um trabalho! Qual a diferença? O trabalho exige seu esforço, sua produtividade. Mas o negócio exige planejamento e investimento.

Percebo que desde que passei a ver a Clínica também como um negócio as coisas mudaram bastante. A possibilidade real de ter meu tão sonhado consultório, com a minha cara, a minha energia e com o resultado esperado, só começou a dar certo quando eu mudei a maneira de investir no meu sonho.

Investimento foi para mim a palavra chave e ele precisou ocorrer em diferentes níveis.

Primeiramente foi preciso investir na formação. Neste ponto, a graduação foi só o começo! Fazer especializações, supervisão, participar de grupos de estudo, manter a terapia pessoal, participar de congressos e eventos…enfim, estar em constante aprendizagem e reciclagem é o primeiro passo para um negócio dar certo. E para continuar dando certo ao longo dos anos também. Por isso, parar de estudar? Nunca!

O conhecimento é fundamental para que consigamos fazer um trabalho bem feito. E esse é o melhor marketing que podemos fazer.

O segundo passo é o investimento financeiro. E esse acho que é um dos pontos mais fracos para nós psicólogos. Não somos ensinados na faculdade a sermos donos de um negócio e por isso, o planejamento e o investimento financeiro não fazem parte do nosso background. Mas, se pensarmos em outros ramos, quem consegue montar alguma coisa sem investir algum dinheiro?

Então, como não nos preparamos para investir, corremos o risco de sublocar ou alugar uma sala sem muita análise do quanto esse espaço reflete nossa personalidade e nossa forma de trabalho. Às vezes, sublocamos um horário numa clínica numa região qualquer, fazemos um cartão de visitas, mas nem ao menos ocupamos nosso espaço!

Ocupar o espaço é outro ponto muito importante. Ocupar significa se apropriar, fazer de um espaço algo seu. Portanto, o primeiro erro é sublocar um horário e ficar esperando em casa que o primeiro paciente chegue para que você comece a ir para o consultório. Se agimos assim, o que acontece é que nosso espaço fica vazio e o lugar do consultório dentro da gente também!

Nesses dez anos de carreira acompanho muitas histórias de pessoas que só começaram a decolar na clínica quando realmente “ocuparam” o espaço do consultório em suas vidas!

Parece que o que eu estou falando é algo mágico, que depende “da energia”, mas na verdade acho que isso é apenas sincronicidade.

Não importa se o espaço não é inteiramente seu, se a mobília não foi você que comprou e se a disposição da sala não foi a que escolheu. Encontre um espaço que corresponda a sua personalidade, que tenha os requisitos para você trabalhar bem e com conforto. Leve um objeto decorativo seu para quando estiver atendendo. Vá ao consultório mesmo que não tenha pacientes. Aproveite para ler, relaxar, se acostumar com o espaço e sentir que ele é seu! São atitudes simples, mas que fazem toda diferença.

Se você também não consegue abrir o espaço do consultório dentro de você porque acha que pode dar tudo errado, que você não sobreviverá financeiramente e que não dá para viver da psicologia, acho que é hora de parar e refletir sobre suas escolhas. É possível viver através de qualquer trabalho. O problema não está na área escolhida e sim na maneira como você a avalia e se relaciona com ela. E se você investir pouco, o resultado será proporcional.

Inseguranças todos nós temos e no início é natural que tenhamos dúvidas, medos e fantasias que precisaremos confrontar e enfrentar para alcançar nosso sonho.

Penso que todo mundo tem um ritmo, um caminho e um tempo para chegar ao seu objetivo. É preciso que consigamos reconhecer nossos potenciais e compreender aquilo que nos está limitando. No meu caso, era o medo de que eu não fosse conseguir sozinha! Realmente não consegui! Construí meu sonho em conjunto com minha família, com meus amigos, com minha sócia. E continuo agregando pessoas a minha volta para juntas realizarmos nossos sonhos.

E esse é o último investimento que considero imprescindível! Não se isole. Tenha pessoas ao seu lado, compartilhe com elas seus sonhos, suas experiências e suas conquistas. Porque sozinhos podemos até chegar mais rápido, mas juntos chegamos mais longe!

Desejo a você que está começando seu caminho agora, que seja de muito sucesso e realização!

Marcela Bianco

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana formada pela UFSCar. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Sedes Sapientiae e em Gerontologia pelo HSPE. CRP: 06/77338

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