cinema

Miles Ahead: quando a música não precisa de palavras

Produzido, escrito, dirigido e estrelado por Don Cheadle, Miles Ahead é apenas um pequeno fragmento da representatividade musical e multicultural do legado de um dos maiores gênios, o trompetista Miles Davis. A cinebiografia foi concebida com muito carinho aos olhos de Cheadle que, desde o início, prezou pela autenticidade sem perder o olhar realista daquela que fora uma figura fundamental para expansão artística entre os mais diversos músicos espalhados pelo globo – seja qual for o gênero pertencente, a maioria bebeu de Kind of Blue e de outros trabalhos primorosos de Miles.

A narrativa da produção abrange poucos anos da vida do controverso Miles, mas a direção de Cheadle passeia tão pontualmente nesses curtos espaços que o espectador mal sente a necessidade criativa da exposição mais densa e procedural no roteiro. Afinal, o importante aqui é salientar como, aos poucos, Miles Davis despertava sentimentos oníricos através da sua música e, nos encantos colossais dos sopros e melodias, elevava o nível para um patamar desconhecido. No improviso, mas também na construção pura, Davis foi um visionário acima de qualquer dúvida e suspeita. A música transcorria absurdamente nas suas veias.

Cheadle está particularmente envolvido na atuação. É contemplativo observar o esforço quase que natural do astro em entregar a melhor performance da carreira e digna dos mais altos prêmios, diga-se. Apoiado, na maioria por atores desconhecidos, com exceção de Ewan McGregor, no qual o diretor/roteirista/produtor/protagonista confessou ter procurado para integrar o elenco unicamente pela necessidade da produção contar com um nome conhecido para ser filmado – aí entra o velho e costumeiro desserviço do cinema contemporâneo. Mas conseguiram, todos os envolvidos, presentear cada amante da viagem transposta em notas diversas, com a possibilidade da admiração de um cinema realista e transcendente.

Miles Ahead é, inquestionavelmente, uma das obras cinematográficas mais intensas já realizadas. E Cheadle merece todos os frutos colhidos. Davis não gostava que a sua música fosse rotulada como jazz. Segundo o próprio, era social music (música social). Que a sociedade respire, viva e entenda um pouco mais da alcunha descrita por alguém que fez música de verdade.

 

Gui Moreira Jr

"Cidadão do mundo com raízes no Rio de Janeiro"

Recent Posts

Com Julia Roberts, o filme mais charmoso da Netflix redefine o que é amar

Se você é fã de comédias românticas que fogem do óbvio, “O Casamento do Meu…

11 horas ago

O comovente documentário da Netflix que te fará enxergar os jogos de videogame de outra forma

Uma história impactante e profundamente emocionante que tem feito muitas pessoas reavaliarem os prórios conceitos.

20 horas ago

Nova comédia romântica natalina da Netflix conquista o público e chega ao TOP 1

Um filme charmoso e devertido para te fazer relaxar no sofá e esquecer dos problemas.

20 horas ago

Marcelo Rubens Paiva fala sobre Fernanda Torres no Oscar: “Se ganhar, será um milagre”

O escritor Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que inspirou o filme Ainda Estou Aqui,…

1 dia ago

Série que acaba de estrear causa comoção entre os assinantes da Netflix: “Me acabei de chorar”

A produção, que conta com 8 episódios primorosos, já é uma das 10 mais vistas…

2 dias ago

Além de ‘Ainda Estou Aqui’: Fernanda Torres brilha em outro filme de Walter Salles que está na Netflix

A Abracine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) considera este um dos 50 melhores filmes…

2 dias ago