Observei que muitas famílias têm um grupo no Whatsapp. Eu mesmo já vi alguns conteúdos que chegam por mensagem nesses grupos das famílias. E confesso que achei interessante: chegam fotos de passeios, da comida que alguém fez e acertou a receita, de bebidas escandalosas em taças lindíssimas, mandam piadas, e fotos dos filhos que estão crescendo.
E se minha família tivesse um grupo no whatsapp, como todas as outras famílias?
Isso não acontece, acho que funcionamos um pouco diferente. Minha família tornou-se estranha nessa época digital. Nos reunimos todos aos domingos e não fotografamos nada, na maioria das vezes.
Tem primos que brigam entre si. Há fofocas na família e grandes discussões são bem habituais. Minha avó, de 85 anos, conta como foi a semana, vendendo e entregando seus produtos da “Avão” (Avon). Como sempre diz, faz mais de 40 anos que vende esses produtos.
Meus tios queixam-se da economia do país. O outro primo perdeu o emprego e tem filhos pequenos. Que confusão, minha família não tem um grupo no whatsapp, mas conversam pessoalmente. Às vezes, sinto-me estranha no meio dessa família tão real, pois nos acostumamos a mensagens e a beijos virtuais.
Na minha família, as pessoas se relacionam pessoalmente, brigam, choram e sorriem juntos. Tem desempregados, tem os que prosperam, tem os que viajam, tem os que não saem do lugar e, às vezes, é difícil suportar tanta realidade, quase não nos aguentamos.
Penso que aquele velho jargão “Família de comercial de margarina” deveria mudar para “Família de whatsapp”, onde tudo parece mais bonito.
A minha família é bem confusa, tem muita gente, tem brigas, tem abraços e tem cheiro de macarronada aos domingos, tem risadas ou lágrimas, dependendo dos acontecimentos na semana.
Acho que prefiro assim, encontros familiares que não cabem em sites de relacionamento, tampouco em whatsapps, mas que cabem em abraços e que têm beijos de verdade.
Imagem de capa: shutterstock/Jack Frog