Por Ana Luisa Borba
Em meio a muitas andanças pelas escadas do MoMa (The Museum of Modern Art), e à horas de análises de obras de arte, fotografias, Kahlo, Dalí, Picasso, Gauguin, Monet, e muitos outros artistas que não é possível recordar, deparo-me com um burburinho de pessoas se empurrando freneticamente, olhos se arregalando, vários “com licença” em ao menos cinco línguas diferentes, que logo me chamam a atenção. Sem nada a perder, e fugindo do frio de -2º de NYC, vou com minha mãe para ver o porquê de tanto estardalhaço.
Noite. 1889. Vicent Willen Van Gogh. Não era para menos, estava ali, bem à frente de todos, “A Noite Estrelada”. Tiro minhas fotos como qualquer um naquele lugar, e salvo em quatro app’s diferentes para evitar que perdesse tamanha preciosidade.
Mais tarde no hotel, passo a observar a obra, que sem sombra de dúvidas, está em primeiro lugar dentre as minhas pinturas preferidas. Não digo isso pelas pinceladas, ou pela tinta que foi usada, nem pela qualidade da tela e beleza da moldura, mas pela mensagem que ela traz.
Há nesse quadro um belo contraste. O Carpe Diem e o Carpe Noctem reunidos em um mesmo espaço. A noite vagarosa e profunda é marcada pela insegurança, instabilidade, pelo medo, e em certa proporção, pela tristeza. Isso se pode constatar olhando o céu; tão grande, tão imenso, que toma o maior plano do quadro. É incerto, é inalcançável. Talvez, Van Gogh preferiu retratar a insignificância de nosso tamanho em relação à outras coisas, ou a nossa incapacidade de controlar o mundo, ao invés de grandes feitos humanos. Por outro lado, vê-se a beleza, a tranquilidade, e a esperança, as luzes ao fundo, e a união entre as casinhas, passaram essa ideia de “você não está só”, de que o amanhã está à porta.
É difícil olhar para “A Noite Estrelada” e não ter um sentimento ambíguo ou se imaginar num paradoxo. É provável que isso se dê pelo estado em que o artista se encontrava – depressão e transtorno bipolar marcaram a vida do holandês – e de certa forma, naquele momento de maneira empática, fui solidária à sua dor. Enquanto observava o quadro, meus pensamentos se dividiam em dois caminhos: a noite e o dia, e como deveriam ser vividos cada um.
Enfim, foi uma experiência magnífica, uma análise do eu e o outro, somente através de um quadro. Obtive diversas conclusões que contribuíram muito para o meu intelecto e visão. Agora, percebo que esse paradoxo é constante, é real. Sei que devemos passar pelos nossas manhãs e madrugadas, sem espantar a bagagem de emoções que com elas vêm. Mesmo durante o dia, temos períodos de noite, recaídas. E mesmo durante as noites, temos paz e calma, e a clara certeza de um amanhã que logo virá. Cada antítese deve ser aproveitada ao seu modo, uma diferente da outra.
Ana Luisa Borba
15 anos e cursa o 1º ano do Ensino Médio.
Amante das artes e da literatura, fascinada por Klimt e Frida Kahlo, apaixonada pela Hungria e sua cultura. Adora escrever textos que retratem seus pensamentos, visitar novos lugares e conhecer pessoas diferentes. Amadora na questão ‘fotografia’. Café, por favor, não camomila.