por Fernanda Pompeu
imagem Régine Ferrandis
Saia perguntando por aí o que as pessoas acham da palavra mudança. Aposto 2/3 das minhas fichas que as respostas serão positivas. A grande maioria dirá que mudar é bom. Os mais refratários se renderão: Não é bom. Mas é necessário. A mudança parece ser o slogan-mãe da nossa época. Fale-se em mudar métodos de governança, de emprego, de área, de smartphone, de operadora de celular. Até de sexo.
Mas falamos pouco dos traumas da mudança. Parece vergonhoso contar dos custos e das dúvidas. Aquele que confessa o dodói de mudar, sente temor de ser taxado como reacionário, fixo, retrógrado, antiquado. Ninguém quer ser o passageiro esquecido na plataforma, vendo o trem da oportunidade sumir na primeira curva. Ai daquele que se atrasa, que se apaixona pela árvore esquecendo da floresta. Ai daquela que caminha devagar, pois se demora namoricando margaridas silvestres pelo caminho. Por fim, além de mudar é preciso fazê-lo com velocidade.
Mudança e velocidade, procure no Google, haverá milhões de resultados. Mas, cá para mim, quase ninguém muda por mudar. Cada um tem seu tempo, que nada coincide com o tempo dos relógios ou da propaganda. Está na natureza humana só se mexer quando não dá mais para permanecer onde nos encontramos. Deixei de ser roteirista de vídeo ao bater o telefone no ouvido do meu último cliente. Olhei para os lados e vi que não tinha mais nada. Nem presente e nem futuro.
Recentemente abandonei a redação de textos encomendados, porque senti que escrevia com mais dor do que prazer. Nas duas situações mudar foi laborioso. Pois ao deixar uma atividade, tive que investir em outra. O que implicou em mexer na rotina, revisitar contatos, narrar para as pessoas os motivos da mudança. Narrativa nem sempre fácil, porque toda mudança tem caminhões carregados de subjetividades. Por exemplo, dizer que fiquei farta de um trabalho porque não me sentia feliz, pouco sensibilizou a nova clientela.
Toda mudança, mesmo motivada por pressão externa, é empenho pessoal. É se abrir para consequências inesperadas. Muitas vezes, é dar o salto sem rede de proteção embaixo. Puxa, você pode se esborrachar no chão. Ou pode encontrar asas em pleno ar. Só fazendo para conferir o que vai dar. Sempre optei por tentar. Estou nessa agora. Curtindo os fazeres do presente, espichando o olho gordo para o que pode vir a ser.
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