O amor, esse sentimento profundamente desconcertante, inebria todos aqueles que provam de sua excelência.
Amar não é algo que nos acontece por acaso, mas uma habilidade artística conquistada da prática consistente e deliberada. A possível incapacidade de reconhecer esse aspecto de arte é uma das principais razões pelas quais o amor é tão entrelaçado com a frustração.
Não há um ser humano sequer que resista ao amor, embora alguns se esforcem bastante para afugentá-lo. Sem amor a vida seria, para todos os fins, desprovida de conteúdo.
Quem experimenta o valor do amor e, substancialmente, se dedica a nutri-lo, tem mais a ganhar do que perder. Por mais que a desilusão amorosa provoque a ruína de muitos, é a salvação para tantos outros.
Dalai Lama, durante uma entrevista, afirmou:
“Da minha própria experiência limitada, eu descobri que o maior grau de tranquilidade interior vem do desenvolvimento do amor e da compaixão.”
Amor, mesmo com imenso potencial de corromper e machucar, ainda é melhor do que nenhum amor. A vida necessariamente falta para quem do amor não prova.
É comum os casais, em suas horas apogeicas, manifestarem a todo o cosmos – eles – a potência desbravadora de seu amor. Cantam a formosura de suas sensações como andorinhas felizes desfilando num parque durante a primavera. Mas, se eles ousarem desmentir a falta que sentem um do outro, esse seria o primeiro passo para o enfraquecimento de seu gozo. Ninguém sente falta do que nunca teve e, se sente, não é falta. Os apaixonados que não se desgrudam e, mesmo assim, não se enjoam, assim livram-se da amargura da distância, mas em contrapartida precisam construir alguma ponte entre eles, de modo que não percam o costume de conquistarem-se e a memorar a consciência do que eram e no que se tornaram. Embora traga segurança, o amor genuíno necessita de ser exercido em liberdade.
Amor é evidência suficiente de que “o homem é algo a ser superado”. Há um sem-fim de incógnitas que o superam.
É verdade que quem ama sofre. Mas quem evita o amor também sofre. Entre os que amam e acabam por sofrer, há também os que sofrem por não amar. Parte de ser feliz é amar; ser feliz, então, também vem de sofrer.
Certa vez, o escritor e dramaturgo francês Victor Hugo disse:
“Vós, que sofreis porque amais, amai ainda mais. Morrer de amor é viver dele.”
Os poetas, por exemplo, estão sempre falando sobre amor. E há aquele senso comum sobre como eles são inclinados para a melancolia. Mas é difícil alguém não se tornar poeta quando o amor lhe toma conta.
Há uma curiosa ligação entre amor e loucura. Como se sabe, as pessoas são capazes de cometer todo tipo de atrocidades usando a justificativa do amor. Isso não é tão belo quanto pode ser trágico. O amor, no entanto, sempre foi (e continuará sendo) uma boa desculpa, se for usada para o bem.
Amar é abrasar, aquecer, encandecer. Ninguém está imune a essa emoção flamejante. Mahatma Gandhi dizia:
“Por mais duro que alguém seja, derreterá no fogo do amor; se não derreter é porque o fogo não é bastante forte”.
Amar é empreender uma virtude e, como toda virtude, deve ser cuidada regularmente, com zelo e carinho, da mesma forma que se molha um gramado, de vez em quando, para mantê-lo belo e verde.
Amar é sobre doação, comprometimento, empatia, e também sobre amor próprio. Só quem está apaixonado por si mesmo possui a capacidade de se apaixonar por alguém. Afinal, se alguém não se ama, não é capaz de reconhecer o amor em ninguém. Para ser amado, há de ser amável. E só é amável quem ama a si mesmo.
Como resposta comum à solidão que amedronta uns e satisfaz outros, busca-se o amor, até para evitar a agonizante separação entre seres humanos. Eventualmente, o amor nasce quando alguém se sente só, e termina quando alguém deseja estar só.
Querer alguém apenas por estar só é igual a assumir-se incompleto, e alguém incompleto sempre se sentirá em débito consigo mesmo, não importa com quem esteja. No caso de conseguir alguém que o ajude a reconhecer o amor, mas sem deixar de valorizar sua singularidade, aquele vazio que sentia antes do relacionamento não será tão sofrido novamente, pois passou a ser contido por uma boa estrutura.
Na vida, não há garantias do amor ideal – único e perfeito –, como a maioria das pessoas prefere crer. Para elas, existe no mundo uma pessoa certa, um amor maior, esperando por todos nós. Essa parece ser uma fantasia em forma de argumento. Como disse o duque francês François de La Rochefoucauld:
“O verdadeiro amor é como a aparição dos espíritos: toda a gente fala dele, mas poucos o viram.”
O tempo passa, as pessoas mudam, as coisas desintegram, mas, ainda assim, temos o direito de continuar pensando que alguns amores são incondicionais, inexpugnáveis, essencialmente perpétuos. Há quem acredite neles, e há quem seja cético sobre isso. No primeiro caso, a ingenuidade causa alguma tranquilidade e felicidade. No segundo caso, a descrença não gera nenhuma vantagem.
Havendo a dúvida sobre a existência do amor infalível, torna-se mais prudente agir como a realização da capacidade de amar sendo resultado de uma habilidade por nós constantemente praticada. É tolice esperar que o amor de uma pessoa estará sempre lá, esperando por nós, independente do que se faça.
Albert Camus dizia que “amar uma pessoa significa querer envelhecer com ela”. Não necessariamente. Os amores inesquecíveis não são aqueles que duram mais, mas aqueles que duram o suficiente, enquanto o amor permaneceu sem cessar.
Como alguns navios que suportam consecutivas tempestades, mas, felizmente, retornam ao porto seguro, algumas pessoas vivem vários relacionamentos conturbados, para, enfim, estabilizarem-se em uma relação que seja segura o bastante, pelo menos enquanto durar.
Histórias de amor são fórmulas de inspiração conhecidas antes do início das eras. O amor catalisa, move as pessoas de uma forma que nenhum outro sentimento o faz. Se é genuíno, então, sua intensidade se prova a maior motivação.
Nossas paixões e ambições ajudam a modelar identidade própria. Muito de quem somos é sobre quem amamos.
O amor é como o vento: não podemos vê-lo, mas podemos senti-lo. Pode ser muito intenso, como um tornado; ou menos forte, como uma brisa. Dependendo do caso, chega a arrepiar.
Martin Heidegger, em carta endereçada à Hannah Arendt, perguntou o seguinte: “Por que o amor é rico além de todas as experiências humanas possíveis, e um fardo doce para aqueles apreendidos em seu aperto?”
Porque nos transformamos no que amamos, e ainda assim permanecemos nós mesmos, ou talvez não seja bem assim. O amor tem o poder resoluto de transfigurar uma pessoa, e por isso não admira aqueles que, amando, se tornam tão radical e surpreendentemente diferentes, em mania e essência, do que outrora foram. Tornam-se, parece, mais seguros. Todos nós, uns mais e outros menos, vivenciamos esse tipo de “cristalização amorosa” em determinadas circunstâncias na vida.
Muitas das mais significativas transformações no mundo são possibilitadas pelo amor e não sem ele. O suíço Paracelso falava:
“Quem nada conhece, nada ama. Quem nada pode fazer, nada compreende. Quem nada compreende, nada vale. Mas quem compreende também ama, observa, vê. Quanto mais conhecimento inerente houver numa coisa, tanto maior o amor. Aquele que imagina que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo, como as cerejas, nada sabe a respeito das uvas.”
O amor é uma arte e, como qualquer arte, deve ser aprendida, praticada e desenvolvida regularmente com coragem e disciplina. Acontece até com os mestres mais excepcionais: se param de aprender a sua arte, a arte trata de desaprendê-los.
A ótima capacidade de amar é algo que todos buscam, mas nem todos se mostram capazes (nem merecedores) de encontrar. Se a têm, às vezes perdem; se não a têm, continuam perdendo. Essa busca por amor, apesar de nem sempre bem-sucedida, é infindável.
Quem acredita já ter um amor garantido para a toda a vida e ainda se esquece de cultivá-lo, cedo ou tarde provará do gosto amargo de seu descuido.
Muitas vezes, comportamo-nos como se o amor do outro fosse durar para sempre. Mas o amor é volúvel. Não podemos parar de aprender sobre quem amamos, visto que as pessoas passam por mudanças das quais muitas coisas são deixadas para trás, talvez o amor que sentiam. A manutenção do amor, se feita de forma negligente, ou se não for feita, custará mais caro no futuro, devido à necessidade de renovar esse amor que já esfriou, e talvez não possa novamente esquentar.
É possível viver bem, por certo tempo, sem dormir, comer, beber, sorrir e se divertir. Mas viver bem sem o amor é impossível, pois o homem deixa de proteger-se para todo o resto, e a vida acaba por matá-lo. Esse amor não precisa ser lindo, maravilhoso e colorido, deve apenas ser verdadeiro – algo que os ressentidos estão sempre evitando.
O amor não é um objeto a ser perseguido e possuído. Entretanto, muitos agem como se fosse, e estes percebem mais facilmente a sua obsolescência em amar, e mais dificilmente pessoas genuínas ao seu redor. Essa atribuição pejorativa do amor faz lembrar da ideia de amor líquido de Bauman. Nada é feito para durar? Isso depende exclusivamente do sujeito que ama. Se quisermos que um amor sobreviva, logicamente não devemos agir como se encurtássemos sua meia vida.
Nossas ações são, por vezes, contraditórias às nossas vontades. Para evitar essas contradições, é adequado separar a verdade da mentira, desde que possível. As rosas precisam ser muito bem cuidadas para florescer, assim como sua poda também se faz necessária de tempos em tempos. Especificamente em relação ao amor, isso significa que é mais saudável cultivar os amores verdadeiros do que se iludir na futilidade de amores falsos: essa distinção exige o abandono do senso de perfeição amorosa.