Essa é uma realidade nada romântica, porém, mais comum do que possamos imaginar. Existem casais que dividem a mesma casa, mas, são estranhos no quesito cumplicidade. Eles dividem uma cama, mas não compartilham a intimidade. Como assim? Vou te explicar!
É um pouco complexo, eu sei, mas espero conseguir transmitir o que tenho percebido, baseando-me nos incontáveis desabafos que escuto. Ocorre que, temos essa visão romântica dos relacionamentos amorosos, especialmente, os casamentos. Acreditamos muito nesse mito de que, à partir do momento que duas pessoas dizem “sim”, seja num altar e/ou frente a um juiz de paz, eles passarão a comungar da mais perfeita cumplicidade.
Contudo, lamentavelmente, a realidade destoa muito desse ideal amplamente difundido pelas religiões cristãs, o de que duas pessoas, ao se casarem, tornam-se uma. Obviamente, esse texto não é generalista, visto que devem, sim, existir, casais que honram aquele juramento que fizeram perante a autoridade civil e/ou religiosa e convidados no dia dos seus casamentos.
Paralelamente à realidade dos casais afortunados no quesito cumplicidade, existem aqueles casais cuja convivência é norteada pela hostilidade e indiferença. São aqueles cônjuges que não compartilham segredos, nem medos, nem sonhos. Por alguma razão, eles não confiam um no outro. Não há harmonia e não há torcida de um pelo outro.
São parcerias “amorosas” nas quais os envolvidos não vivenciam a graça e a riqueza de ter, de fato, um ombro amigo à disposição sobre a mesma cama. Pelo contrário, são o ressentimento e a desconfiança que ditam as regras. Imagine a frustração de sentir-se angustiado(a) e não ter a segurança de compartilhar isso com o próprio cônjuge? E a decepção de ver o próprio cônjuge tripudiando em cima daquele desabafo tão doloroso, feito aos prantos? E o hábito de omitir informações financeiras um do outro(esconder dinheiro, comprar escondido, mentir sobre algum ganho etc.)? Pois é, tudo isso é rotina em muitos casamentos.
É fato, existem muitos casamentos que são um verdadeiro cárcere para as emoções dos envolvidos. Ah, muitos deles duram muito, comemoram, inclusive, bodas de ouro. É que nossa sociedade hipócrita insiste em chamar de “casamento que deu certo” aquele que dura muito tempo, a qualidade dele não entra como elemento de análise. Se a pessoa estiver com uma aliança no dedo e com o status de casada, está tudo nos conformes. Pouco importa se está infeliz, amargurada, desrespeitada ou maltratada. É o que fica nas entrelinhas do contrato da hipocrisia social e religiosa.
Em contrapartida, aquelas pessoas que se separam, justamente por se darem conta de que não encontraram no casamento uma atmosfera de harmonia, amor e confiança, são criticadas pelo seu meio social e familiar. É comum essas pessoas serem rotuladas como “inconsequentes”, “irresponsáveis” etc. Ao que parece, há uma parcela da sociedade que defende que o casamento deve ser mantido mesmo com o sacrifício da própria vida.
Percebo alguns segmentos sociais fazendo campanha para o casamento, mas, não vejo campanha para o amor, o respeito, a cumplicidade dentre outros atributos. Especialmente, a cultura machista, defende que a mulher tenha um marido, mas não está nem um pouco interessada se essa mulher vai ser feliz no casamento.
Nessa brincadeira de mal gosto, têm muitas pessoas adoecendo de tanta infelicidade no casamento, mas estão ali presas. A vida passando e elas empenhadas em sustentar essa máscara de “pessoa bem casada”. A saúde indo para o ralo; a autoestima, sepultada; e a dignidade, nunca mais deu notícias.
Imagem de capa: Diego Cervo/shutterstock
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