Muitos divórcios começam no namoro, quando identificamos os sinais negativos, mas ignoramos

Dizem que a paixão cega os amantes em relação aos defeitos do outro, porque, naquele momento, o idealismo está acima de qualquer razão. Dizem que isso arrefece com a sedimentação do amor, que vem aparar as arestas, desconstruir ilusões, firmar o que é realmente verdadeiro, bem como separar o que não mais se sustenta. No entanto, a prática nem sempre acompanha essa lógica.

Quantos de nós não vamos procrastinando as decisões, fazendo vista grossa com o que incomoda, na esperança de que aquilo não durará? Dizemos que é coisa da idade, que ainda é preciso amadurecer, que o outro se enxergará, assumirá seus erros e mudará aquele comportamento que machuca. E vamos alongando uma história cujo enredo não sai do lugar, enquanto aumentamos o peso de nossas utopias. De nosso sofrimento.

É claro que as pessoas podem mudar, amadurecer e aprender com os erros. É claro que abrimos mão de algumas coisas em favor do parceiro, e vice-versa. Os relacionamentos vão se construindo com o passar do tempo, ajustando-se o que encaixa, aparando-se o que desgasta, ao toque de decisões e de renúncias. É assim que o amor fica forte e as pessoas também. Vamos repensando o que somos também de acordo com as expectativas de quem amamos, pois todos queremos ser amados.

Infelizmente, porém, nem todos são capazes de atender aos anseios de quem caminha ali ao lado, pois colocam-se sempre em primeiro e único lugar. Por isso mesmo, não se veem como alguém que precise mudar ou adequar-se ao mundo lá fora, à pessoa lá fora, aos sentimentos lá de fora. Junto deles, sempre estaremos caminhando em uma travessia solitária e sem qualquer resquício de reciprocidade. Isso dói demais.

Tem gente que muda. Tem gente que não muda, nunca mudará. Percebermos um e outro nos salvará de adentrarmos por uma caminhada de solidão acompanhada, sem ter a quem estender as mãos, sem ter olhos que nos olham, que nos procuram e nos sentem. Sem reciprocidade, só nos restarão vazios e lamentações. Lembremos que nunca será tarde demais, pois sempre dá tempo de ser feliz.







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.