Marcel Camargo

Muitos parceiros nem se amam mais, mas se acostumaram com a presença um do outro

Existem casais que permanecem juntos por toda uma vida, mesmo que o amor já tenha arrefecido, pois já se acostumaram com a presença, com a companhia do parceiro. Isso porque a gente se habitua a tudo, até mesmo com o que não nos faria falta, e ter a noção exata do tanto de amor que resta pode fazer toda a diferença em nossas vidas.

Talvez pela natureza gregária dos seres humanos, muitos de nós resistimos à ideia de ficar sozinho, sem alguém ao nosso lado, como se fosse inconcebível ser feliz sem um parceiro. E, assim, nos apegamos ao companheiro além da conta, sufocando em nós os sonhos de algo que ele não é mais capaz de nos oferecer. Com isso nos conformamos, agarrando-nos à famosa falácia: “ruim com ele, pior sem ele”.

Da mesma forma, podemos às vezes nos submeter ao convívio sem amor por conta de normas impostas por sei lá quem, que ditam a obrigação de casar, ter filhos, mantendo uma casa que nem mais lar é. Sentimos vergonha de quebrar a ordem das coisas, considerada natural, como se a felicidade dos outros valesse o nosso mergulho numa vida que não mais nos pertence.

Na verdade, desistir de algo ou de alguém é visto como fraqueza por muitos, haja vista a tendência em sermos aconselhados constantemente a continuar, a tentar, a persistir, principalmente quando há filhos em jogo. Quantas vezes não ouvimos alguém comentando que fulano se separou porque só pensa nele mesmo, em mais ninguém, tampouco nas crianças?

Tenhamos, então, a consciência de que, não importa qual atitude tomarmos, seremos sempre alvo do julgamento alheio, uma vez que não poderemos agradar a todo mundo. Ou nos criticarão por manter uma relação sem amor, ou porque resolvemos sair dela cedo demais, e por aí vai. Teremos que viver de acordo com o que alimenta os nossos sonhos, ou viveremos de migalhas alheias.

Precisaremos refletir muito ao tomarmos decisões que envolvem pessoas que caminham conosco, sabendo que toda batalha traz perdas, dor, vazio e lágrimas. Caso estejamos seguindo o nosso coração, então haveremos de nos encontrar e de encontrar o amor verdadeiro, pois o novo sempre vem. E, retomando a felicidade, poderemos enriquecer a vida de quem está ao nosso lado com mais força, porém, caso mantenhamos nosso coração ofegante ao lado do que não nos emociona mais os sentidos, traremos infelicidade ao nosso redor, pois é só isso que teremos a oferecer.

Imagem de capa: oneinchpunch/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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