Marcel Camargo

Muitos pesos desaparecem quando desistimos de ter respostas para tudo

Ninguém quer sofrer, dar errado. Ninguém quer doer, ser ferido. Ninguém quer ser traído, sofrer decepção, escolher errado. Mas ninguém, nessa vida, foge a tudo isso. Viver é alto e baixo, frio e quente, esperança e solidão. Por isso existe a fé, a oração, os amigos, a confissão. Porque, quando o céu desaba sobre nós, quase nada parece ter explicação, quase nada parece fazer algum sentido.

Primeiramente, não podemos temer o sofrimento. Nesse sentido, há um vídeo maravilhoso sobre o valor do sofrimento, em que a psicanalista Viviane Mosé fala disso com muita clareza. Ela diz que o sofrimento deve ser acolhido por nós, para que possamos entender o que ele está querendo de nós, porque o sofrimento rasga e alarga a alma, para que nela caiba mais mundo. Com isso, a gente fica bem mais forte.

Da mesma forma, precisamos ter a consciência de que nem tudo tem uma explicação plausível ou explícita. Embora, muitas de nossas dores sejam consequências diretas da forma como agimos, algumas fatalidades simplesmente entram em nossas vidas, sem pedir licença, sem poupar nada, sem mais nem por quê. Mesmo que lutemos contra as adversidades e pautemos a nossa vida pela ética e pela coerência, não existe o que se possa evitar com segurança concreta.

O sofrimento, na maioria das vezes, vem de fora, vem da vida, vem dos confrontos entre nós e o mundo, entre nós e o outro, entre nós e as relações humanas. Nunca poderemos fazer as escolhas por ninguém, ou seja, também acabamos sofrendo muito ao assistir a uma pessoa que amamos colhendo os frutos amargos de suas escolhas equivocadas. E, ainda, existe o confronto entre nós e nós mesmos, porque há lutas dentro da gente, entre desejo e razão, entre sonho e chão, entre amor e paixão.

Quanto mais tentarmos buscar razões para a escuridão que nos assola, de tempos em tempos, menos nos fortaleceremos para sair dela. Algumas tragédias não se explicam, nunca se explicarão. A vida sai do nosso controle o tempo todo, simplesmente porque não somos deuses , não temos superpoderes, nem bola de cristal. Temos vidas além das nossas com as quais nos importamos, ou seja, às vezes, enfrentaremos tempestades que não foram criadas por nós. Uma coisa é certa: tudo o que nos acontece vem para ensinar, para mostrar caminhos outros, para derrubar certezas e quebrar paradigmas. Tudo é evolução e ensinamento. E tudo há de passar.

Não seremos mais os mesmos após sermos atingidos pelas tormentas da vida, mas tenhamos a certeza de que sobreviveremos, de que sairemos mais fortes, mais gente, com a alma maior, para guardarmos mais mundo dentro da gente.

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Foto de mentatdgt no Pexels

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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