Em uma matéria publica no jornal The Intercept Brasil, a médica Nathália Fraporti fez um relato angustiante sobre sua rotina nas UTIs dos quatro hospitais de São Paulo em que cuidou de casos de covid-19.
Em um dos trechos do relato, ela fala sobre uma paciente que faleceu da doença depois de ter sido impedida de se vacinar pelo marido.
“A Renata tinha 65 anos, se não me engano. Foi a paciente mais grave que tivemos no hospital. Foi internada no início de outubro, junto com o marido, Fernando. Ele se recuperou, mas ela ficou. Como os casos de covid-19 diminuíram bastante, teve um momento em que ela era a única paciente com a doença na UTI. Eu ligava quase todos os dias para a família e conversava com as irmãs dela. Lembro que, quando ela chegou no hospital, perguntei por que não havia se vacinado. Em outubro, a Renata já estaria perto de tomar até a terceira dose da vacina. Ela disse que queria, mas o marido a proibiu. Ficou na vontade.”, contou Nathália Fraporti.
“Quando algum paciente está com síndrome aguda respiratória grave e passa muito tempo deitado, como no caso da Renata, ele fica com dificuldade de mandar oxigênio do pulmão para o sangue. Nesse caso, podemos pronar o paciente, que é uma manobra em que o viramos de barriga para baixo. É como se a gente tirasse esse peso que está por cima. Assim, o pulmão consegue se oxigenar com mais facilidade.”, continuou a médica.
“Precisamos de pelo menos seis profissionais para realizar a manobra sem tirar o tubo respiratório do lugar, nem provocar qualquer alteração nos acessos do paciente. A Renata teve bastante benefício todas as vezes em que fizemos a manobra. Apesar da idade avançada, foram 13 pronas. Isso é bastante coisa, foi uma das pacientes que a gente mais pronou no hospital. Até o momento em que ela parou de responder ao procedimento. Isso porque, quando o tubo de respiração fica muito tempo na via aérea, ele acaba grudando na mucosa. Fizemos uma traqueostomia, uma cirurgia em que fazemos um corte na garganta do paciente e inserimos um pequeno tubo na traqueia pra facilitar a respiração. Só que a Renata já tinha passado mais de 20 dias intubada. Chegou num ponto em que ela não tinha mais covid, estávamos tratando apenas as sequelas da doença, como a fibrose pulmonar.”
“Depois de um mês e meio internada, ela veio a óbito. Quis entender o que tinha levado o Fernando a fazer o que fez, a não se vacinar, nem permitir que a esposa o fizesse. Ele me contou que nunca havia tomado uma vacina na vida. Com todas essas fake news circulando, ele passou a acreditar que a vacina fazia mal para a saúde.”, disse Nathália Fraporti.
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Redação Conti Outra, com informações de The Intercept.
Imagem destacada: Reprodução.
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