Por Oscar D’Ambrosio
O artista consegue ser amplo até na maneira como mescla aspectos do barroquismo mineiro no que diz respeito à soma de elementos e a influência absolutamente contemporânea do graffiti. Analogamente, utiliza o spray com reconhecida competência, mas isso não o impede de também navegar pela têmpera, pela tinta acrílica e pela aquarela, técnicas nas quais revela uma delicadeza e mesmo um lirismo pleno, nem sempre comportado, com pitadas de sensualidade e um diferenciado senso de composição.
Na imagem: Pintura prédio SENAC Unidade Lapa Scipião, São Paulo e “Love Spreads”, 2009 R.U.A Festival, Rotterdam
Bacharel em Artes Plásticas na Escola Guignard de Belo Horizonte e com experiência na arte de rua e em atividades de inclusão ligadas a jovens grafiteiros – o Projeto Guernica – que o levaram a viajar para países como França e Bélgica, sua arte utiliza diferentes linguagens para obter um resultado de impacto. Há ainda um marcado diálogo com o Oriente, mas essas imagens passam por um intenso filtro, não se mostrando nunca acomodadas, mas repletas de ironia e irreverência em relação à sociedade.
Existe sempre a demonstração de um espírito inquieto, mais visível nas criações em que os movimentos circulares predominam. A presença de elementos de culturas como a afro ou a indiana colabora para compor um painel globalizado em que os trabalhos se interligam justamente pela diversidade de pontos de partida em direção a uma realidade bem própria da primeira década deste século, na qual buscar ou estabelecer rótulos significa fracassar.
Mesmo em trabalhos de menores dimensões, mais intimistas, onde os retratos figurativos se fazem mais presentes, Ramon Martins mantém seu caráter multicultural, pela riqueza de referências, e ilimitado, por ter como princípio não se negar a somar experiências, venham elas da universidade ou da rua, da convivência plástica ou da existencial.
A prática resulta numa obra significativa pelo conteúdo visceral que apresenta e pela forma tecnicamente diferenciada, em termos de qualidade, como é feita, num exercício de aperfeiçoamento e de construção de uma linguagem particular – ora mais delicada, ora mais crítica –, mas, antes de tudo, sincera enquanto expressão plástica.
Fonte: http://www.eye4design.com.br/talents/open/ramon-martins-iii–2
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