Por Ciências da Saúde – URL Curta: jornal.usp.br/?p=247584
– Editorias:A musicoterapia, já utilizada para controle do estresse em pacientes com diferentes condições de saúde, também pode se mostrar um instrumento eficaz para apoiar o tratamento e a reabilitação de dependentes químicos, revela artigo publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem. O texto descreve um estudo realizado em uma instituição no Rio de Janeiro com 18 dependentes químicos em tratamento. De acordo com os autores, apesar de definido como “quase experimental” (não cumprindo requisitos como grupo controle e aleatoriedade na seleção dos participantes), o método possibilitou “um olhar clínico para enfermeiros e outros profissionais de saúde que cuidam desses pacientes”.
Liberado diante de uma situação de tensão ou ameaça, o cortisol salivar (obtido da saliva) é considerado o hormônio do estresse, “uma medida eficaz, acessível, rápida e não invasiva desse fenômeno”. Assim, os pesquisadores afirmam que o estresse em dependentes químicos pode ser avaliado pela medição deste hormônio.
No estudo, após uma hora de musicoterapia houve redução “significante nas médias dos níveis de cortisol salivar”. Deste modo, a pesquisa sugere que a musicoterapia pode reduzir de forma importante o estresse de dependentes químicos. Os autores ressaltam, porém, que a prática não agiu isoladamente, e sim “em conjunto com tratamento psiquiátrico e psicológico”, podendo ajudar os pacientes nos momentos de fissura durante a abstinência.
O tratamento com musicoterapia envolve não apenas som, mas também expressão e movimento. O musicoterapeuta facilita o estado de consciência criativa do indivíduo e a comunicação deste com os outros participantes do tratamento, “no sentido de alcançar necessidades físicas, emocionais, mentais, sociais e cognitivas”.
Na sessão única de musicoterapia a idade média dos pacientes era em torno dos 40 anos, e 61% eram do sexo masculino. Com músicas escolhidas pelos próprios dependentes, a sessão foi realizada uma só vez, pois o estudo quis avaliar o efeito imediato da musicoterapia sobre o estresse, “com recriação e improvisação vocal”.
Outros estudos mostram que participantes que abandonaram o tratamento tiveram maior pico de estresse do que aqueles que continuaram. Apesar de complementar o tratamento de várias doenças, ainda há poucos dados sobre os efeitos da musicoterapia na dependência química.
Os autores lembram que o uso constante de drogas gera uma dependência que pode ser detectada principalmente por sintomas psicofisiológicos. “Há um padrão de autoadministração repetida que, em geral, resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de consumo da substância”, destacam.
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Estudos científicos há mais de três séculos confirmam os efeitos da música suave acalmando pacientes agitados, mas esta pesquisa se volta para a musicoterapia essencialmente interativa. “O musicoterapeuta e o paciente estiveram ativamente envolvidos no processo de fazer música”, aumentando a autoestima, estimulando a “reflexão intensa sobre externar sentimentos e emoções durante as músicas por meio de lágrimas ou sorrisos”.
Os autores concluem que a musicoterapia traz benefícios inegáveis para a redução do estresse quando ocorrem recaídas durante o curso do tratamento de dependentes químicos, e também pode ser apontada como “uma tecnologia inovadora de cuidado se for organizada como uma atividade ao mesmo tempo sistemática e criativa, pois facilita a expressão de emoções, a comunicação interpessoal e a possibilidade de efeito terapêutico”.
Artigo
TAETS, G.; Jomar, R.; ABREU, A. M.; CAPELLA, M. Efeito da musicoterapia sobre o estresse de dependentes químicos. Revista Latino-Americana de Enfermagem, São Paulo, v. 27, n. e3115, 2019. INSS: 10.1590. DOI: https://doi.org/10.1590/1518-8345.2456.3115. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/rlae/article/view/155689. Acesso em: 03 maio 2019.
Contatos
Gunnar Glauco De Cunto Taets – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Departamento de Fundamentos do Cuidado de Enfermagem, Macaé, RJ.
oenfermeiro2007@hotmail.com
Rafael Tavares Jomar – Instituto Nacional de Câncer (Inca) José Alencar Gomes da Silva, Coordenação de Assistência, Rio de Janeiro, RJ.
Angela Maria Mendes Abreu – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Escola de Enfermagem Anna Nery, Rio de Janeiro, RJ.
Marcia Alves Marques Capella – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Rio de Janeiro, RJ.
Margareth Arthur / Portal de Revistas USP
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