Algum lugar do mundo, 04 de agosto de 2016
Esse vazio que você sente, nada nem ninguém poderá preencher. Nem cigarro, parente ou mesmo os mais belos presentes serão capazes de completar. Nem novela, balada, bebida, nem mesmo a vida que sonha em ter. Nem amigos, estilo, nem os títulos mais pomposos serão suficientes. Nem sexo, reconhecimento, o calor do momento ou carros bonitos o farão passar. Viagens para Disney e fotos com milhares de curtidas não te acalmarão. Nem dinheiro, uns quilos a menos ou todas as comidas que para dentro enfia.
Talvez isso tudo o distraia por alguns momentos, assim como funciona um remédio para dor. No momento em que o efeito vai embora, entretanto, o sintoma se agrava por você ter forçado a parte machucada enquanto ignorava a verdadeira causa da dor.
E assim, por evitarmos nossas feridas, elas vão se acumulando, criando uma densidade tão grande dentro de nós, que de tanto e há tanto clamarem por atenção, acabam por tornarem-se buracos negros carregados de dor e incompreensão. E sugam a tudo e a todos e nem mesmo a luz resiste à tamanha gravidade. Tornam-se vórtices negros e acabam por sugarem a nós mesmos enquanto procuramos fora, desesperadamente, algo que possa nos preencher. Mas tudo é sugado novamente para esse depósito escuro para onde não queremos ir, onde jamais gostaríamos de mexer. E esse buraco, sentido como falta de algo ou solidão, nada mais é do que a falta de si mesmo.
Grande é o medo de nos afogarmos nessa sujeira, de cairmos lá dentro com tudo. Tememos e, no fundo, sabemos que esse buraco é muito fundo. E se dele não formos capazes de sair? E se não houver nada melhor para ser encontrado? E se eu me perder ainda mais ao tentar me conhecer?
Na verdade o que tememos não é a perda de nós mesmos, mas das ilusões que nos mantem “vivos”. Das máscaras que nos agarramos para evitar a dor, para vivermos em um mundo que nem sempre é fácil e cheio de amor. Temos medo de perder essas escoras, essa gambiarra emocional e mental que fazemos todos os dias para suportar o fato de não sermos íntegros o suficiente para viver nossas verdades. Verdades que muitas vezes desconhecemos.
Ironicamente, ser verdadeiro é o único caminho para felicidade. E para isso, terá realmente que queimar todas as máscaras que já vestiu. Deverá derrubar todos os muros construídos com tijolos de medo. Precisará cortar essa fita crepe e os barbantes que usa para enquadrar-se nas expectativas dos outros. E terá que curar cada ferida que criou ao negar-se. Ao diminuir-se. Esconder-se. Não tem jeito. Terá que enfrentar seus monstros.
Felizmente, a cada ferida curada, seu salto, inicialmente em plena escuridão, tornar-se-á cada vez mais claro. Iluminado pela luz mais forte que já encontrou, tão forte, que o sustentará fazendo com que sua queda vire voo. E quando todo o entulho for removido, terá um novo terreno onde poderá fincar bases fortes. Nada de galpões remendados. Agora, poderá construir castelos com belos pátios floridos. Quartos acolhedores e salas aconchegantes com quadros coloridos.
Nessa nova morada só entrarão aqueles que realmente dela gostarem. Irão de livre e espontânea vontade. Devo alertá-lo, serão poucos perto dos que frequentavam seus velhos galpões. Porém, agora sua casa não mais precisará estar tão cheia de coisas e pessoas. Estará cheia de sua própria luz e nela sentirá prazer em viver. A falta que antes sentia agora virou alegria – de SER.
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