Não basta encontrar a pessoa certa, temos que fazer o amor dar certo.

Alguém disse, certa vez, ser a posse o túmulo do desejo e, assim, acertou em cheio. A maioria de nós anseia avidamente por algo até que o consiga, quando então aquilo tudo como que parece perder a graça, tendo automaticamente diminuída sua importância para nós. Em seguida, logo voltamos nossos olhos a novos quereres, sempre tentando alcançar o que ainda não possuímos. Agimos assim com as coisas, agimos assim com as pessoas.

Esse comportamento é extremamente nocivo à nossa satisfação pessoal, pois tanto nos distancia do desfrutar prazeroso das conquistas obtidas e das pessoas que cativamos, quanto nos impede de darmos valor ao que somos, ao que temos e a todos que já caminham conosco. A ambição, quando bem direcionada, é necessária, uma vez que nos motiva a não estacionarmos a energia de nossos sonhos. Contudo, focarmos exclusivamente nossas vidas em conquistas futuras acaba por ceder o terreno que sustenta tudo o que já se encontra conosco e já faz parte de nossa lida.

O perigo consiste, sobretudo, em negligenciarmos as pessoas que nos amam verdadeiramente e chegaram aonde estamos de mãos dadas conosco, apoiando-nos com cumplicidade e comprometimento sincero, ajudando-nos a suportar o peso dos reveses enfrentados – e que não foram poucos. Não devemos somente dar o melhor de nós enquanto tentamos conquistar quem amamos, mas sim manter acesa a chama de sentimentos que nos uniu ao amor de nossas vidas desde o princípio.

Não é porque conquistamos alguém que podemos nos tranquilizar e ignorar as suas necessidades, na certeza de que aquilo durará para sempre por si só, haja o que houver, e fim de cuidados, fim da atenção, fim do cativar. Nossos queridos precisam ser continuamente certificados de que nos importam, de que lhes somos gratos, de que os amamos, e isso não se consegue transmitir através de silêncio, desinteresse, tampouco de corpo presente sem alma, sem calor.

A sedução e a conquista devem permear cada etapa de desenvolvimento dos relacionamentos, de modo a que o outro nunca tenha que conviver com olhares desencontrados, passos descompassados, sonhos compartilhados no vazio, vozes perdidas e sem retorno. Ninguém merece ser ignorado por quem lutou, por quem viveu de dentro, por quem amou verdadeiramente e de forma recíproca. Ninguém deveria frustrar-se frente ao que se dedicou com inteireza, honestidade e doação transparente.

Não podemos, portanto, nos acomodar e deixar de entrelaçar as mãos com quem sempre esteve ali torcendo por nós, acreditando em nossos sonhos, amparando os nossos passos, enxugando nossas lágrimas e comemorando nossas vitórias. Como tão bem nos ensinou o principezinho, seremos eternamente responsáveis por quem cativarmos, pois, tal como as plantas, o amor que não é cultivado e regado, com dedicação e verdade, descolore, arrefece e morre. Simples assim.







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.