A morte brutal de um homem negro, asfixiado durante abordagem policial em Minneapolis, nos Estados Unidos, desencadeou protestos nas ruas em alguns países e no Brasil, o que nos faz invocar a declaração de Angela Davis, professora e filósofa estadunidense: “Não basta não ser racista, devemos ser antirracista.”
A brutalidade contra os negros em nosso país é cotidiana, como os casos recentes de um adolescente, de 14 anos, que foi vítima durante uma operação desastrada da polícia do Rio de Janeiro e de uma criança de 5 anos, que morreu após cair de um prédio de luxo no Recife, o menino estava sob responsabilidade da patroa de sua mãe, que passeava com o cachorro dos patrões.
Essa ideologia racista deseja a desumanização da população negra, o que se constitui na desvalorização do corpo e da imagem dos negros, que geram sofrimentos que prejudicam a saúde física e mental das pessoas negras. Assim, o racismo produz sequelas, que afetam toda a sociedade.
No entanto, ocorre no Brasil a negação do processo violento que foi a escravidão, que deturpa a história e coloca os negros em posição de inferioridade, como sujeitos não merecedores dos mesmos direitos econômicos, sociais e políticos dos brancos. Ademais, os jovens negros são tratados como bandidos pela polícia.
Por isso, devemos combater o racismo estrutural, que está presente de forma velada e simbólica na sociedade brasileira, atingindo incontáveis vítimas com seu preconceito e violência, que causam danos morais, financeiros e psicológicos, o que impede que haja a ascensão social dos negros na mesma proporção que os brancos.
Desse modo, a democracia racial é uma invenção, que foi mitificada pelo livro Casa Grande e Senzala, do sociólogo Gilberto Freyre, que expõe uma improvável relação cordial entre negros e brancos. Freyre omitiu em sua narrativa, que a coexistência dos senhores e seus escravos advém do medo e das relações sexuais forçadas com as escravas, que para não sofrerem mais castigos se submetiam aos estupros.
Nesse contexto, o racismo é uma ferida aberta, que se nega em cicatrizar, já que existem criaturas que se acham maiores e melhores do que os outros por conta de sua ideologia, de sua cor da pele, de seu poder aquisitivo e de sua classe social. Isso se combate com ações antirracistas de abordagem humanista, paritária, igualitária e constitucional e com sua aplicação em todas as políticas públicas.
Portanto, é dificílimo afirmar que temos uma democracia racial, que é o estado de plena igualdade independentemente de raça, cor ou etnia das pessoas, pois não estamos falando apenas de possibilidade de participação política, mas de igualdade de direitos, igualdade social e igualdade econômica, que são garantidas na Constituição Federal de 1988.
Afinal, essa coisa de supremacia branca não passa de uma ideia imbecil e criminosa, porque ninguém é superior a ninguém, somos todos seres humanos, que estamos tentando sobreviver em um mundo acuado por uma pandemia de um vírus letal – que não está nem aí – com a cor da pele e do status quo de suas vítimas.
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Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista