Não busco mais uma história de amor dessas que os séculos repetem, com rituais exteriores, com votos ditos altos, com símbolos marcados no corpo, mas com almas pouco despertas. Não busco mais viver uma união de cegueiras, um relacionamento em que um ampara a mentira ou a ilusão do outro, em que quase tudo fica na superfície por termos medo de mexer no que assustaria a todos.
Busco sim companhias para a caminhada, amizades corajosas, trocas de aprendizados, amparo mútuo nesse caminho doce e difícil de flexibilizar o olhar e romper condicionamentos e ciclos viciosos.
Não busco mais um colo familiar e confortável, reconhecível pelas minhas células femininas ancestrais, que atraem o que foram educadas por séculos. Não procuro um alguém para eu repousar a mulher que a cultura me ensinou a ser, porque dentro de mim e no espírito do mundo eu ouço que é tempo de transformar, de despertar, de aprender a deixar o propósito maior da vida vir à tona.
Porque eu ando aprendendo que o meu corpo sabe dizer onde ele gosta de se encaixar, que o meu coração pode ficar mais leve, que a minha alma só pertence a mim mesma e quem chega perto é um visitante que eu posso querer ou não receber.
Por isso, às minhas mãos eu quero que se unam mãos desbravadoras, quero olhos ousados como os meus, quero seres que sejam espelhos revelando as minhas sombras que sozinha eu não consigo ver, e que os sustos desses insólitos contatos com os meus porões não me façam sair correndo, mas me insuflem energia para querer desbravar-me mais ainda e limpar as crostas antigas das paredes da minha alma.
Quero também, a companhia que saiba também abrir as minhas janelas e portas e não tenha medo de encontrar a luz radiante dos meus sóis. E que eu esteja preparada para o mesmo! Que a gente possa unir nossa energia vital, essa coisa que é maior que nós e que pode causar tanto medo pois é um gostinho do que seria a morte, já que é exatamente o auge da vida.
Que a gente tenha estômago e coração para ver nossas sombras e luzes, nossas inteirezas e assim nos libertarmos de sermos apenas vultos de nós mesmos.
Que a coragem esteja nos nossos passos, que, com amor, a gente saiba abrir frestas um no outro, para que a nossa essência respire. Que a gente respeite os ritmos, principalmente o nosso próprio, que a gente deixe o amor ser como onda, que vem e vai, que foge ou fica… Que saibamos que nada está nas nossas mãos, por isso mesmo podemos relaxar.
Que sigamos nos desvendando um no outro, um com o outro. Que a vida seja um estudo compartilhado de dois cientistas que aceitam ser as próprias cobaias.
Que a gente possa ficar cansado e titubear, mas que as nossas companhias sejam fortalezas, ponte e inspiração, para que nossos passos, mesmo que hesitantes, sigam sempre em frente.
Imagem de capa: patronestaff/shutterstock
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