Ana Macarini

Não coloque palavras na minha boca!

Coisa irritante é ter que lidar com gente que adora distorcer o que a gente fala. A convivência vai ficando muito complicada quando o outro pega o que dizemos e passa no seu próprio moedor mental de repertório, tempera com suas próprias emoções, e usa a nossa fala em seu próprio benefício.

Nessas circunstâncias o que pode ser feito é ouvir a si próprio atentamente, antes de aceitar de forma condescendente o que vem do outro, por meio de suas opiniões e crenças prontas.

Além disso, é bom enfiar na cabeça uma coisa: se outro estiver a fim de dar um nó cego naquilo que você falou não há Nossa Senhora Desatadora de Nós que dê jeito.

Feita a reflexão, você estará quase pronto para o próximo estágio, que é aceitar serenamente que uma coisa é o que você fala, outra coisa é o que o outro entende, e outra coisa, ainda mais perturbadora é o que o outro escolhe entender.

A interpretação alheia acerca de nossas exposições é uma verdadeira caixinha de surpresa, dentro da qual tanto pode vir uma joia valiosa, quanto um cascalho desgastado por toda aquela água que tinha para rolar debaixo da ponte, e que já rolou.

E o que tem de gente que faz questão de não entender o que dizemos é de arrepiar o umbigo, bem naquele lugarzinho que a gente se esconde quando também faz questão de deturpar falas alheias em nosso próprio benefício. Afinal de contas, pisar na bola não é privilégio de ninguém, certo? E todo mundo tem seus dias de ver o mundo lá de cima ou lá de baixo.

É, colega, como diria a minha avó “Tudo o que sobe, um dia há de descer!” – sem exceção -, tirando os níveis de canalhice no mundo. Sim, porque esses sobem verticalmente na velocidade da luz.

Mas… Supondo que você tenha feito um voto em benefício da honestidade, lealdade e justiça. E que venha honrando esse voto. Baseado nessa honra recém-conquistada, você escolheu praticar aquelas maravilhas todas sobre as quais sempre discursou com tanta desenvoltura e considera-se apto para dizer ao seu semelhante próximo o que lhe vai na alma.

Então você escolhe bem as palavras, dá uma boa polida nelas e revela seu coração e sua mente para aquela pessoa difícil, com a qual é um desafio gigante manter uma conversa. Tudo devidamente organizado em pensamento, você abre as comportas. É sua tentativa de “limpar ruídos na comunicação”.

A criatura fica ali imóvel, uma caricatura malfeita da Monalisa. Não dá nenhuma pista para te ajudar a entender se o seu discurso de peito aberto foi ou não foi compreendido. Nada. Silêncio total. É nessa hora que você decide encurtar o papo que, a essas alturas já virou um constrangedor monólogo.

Fim de “conversa”, cada um toma seu rumo e vai cuidar da sua vida. Você até procura esquecer que foi solenemente ignorado. Supera.

Até que, um belo dia, você é surpreendido por uma espécie de filme ruim, desses que só passa na Sessão da Tarde. E vê, estarrecido, saírem da boca do seu outrora interlocutor, aquelas palavras que com tanto esforço você compartilhou, só que deformadas.

O que era “não” virou “talvez”, o que era “talvez” virou “sim”, o que era “sim” virou “sei lá”, e o que era “sei lá” virou lá qualquer outra coisa sobre a qual você não faz a menor ideia de origem ou significado.

Numa hora dessas, a primeira melhor coisa que se pode fazer é manter silêncio. O silêncio é a resposta mais justa que podemos oferecer àqueles que fizeram de nossas palavras tecidas em sentimentos, trapinhos distorcidos, sem nenhum constrangimento.

A segunda melhor coisa? A ausência. Dê seu melhor sorriso, limpe dos pés a poeira do ressentimento e saia de cena. Deixe o desonesto manipulador falando sozinho. Ele merece!

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Antes da meia noite”

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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