Quando criança, minha vó Izaura costumava trazer do interior cocadas de maracujá feitas por ela. Eram uma delícia e lembro que fazia festa em casa quando isso acontecia, formiguinha que sempre fui. Era um docinho muito simples, feito com coco, açúcar e fruta. Sequer leite condensado ela colocava. Eu preciso dizer que esse é meu doce preferido desde então? E sabem o por quê? Porque ele carrega minha infância. Podem estar certos de que sempre que me virem comendo uma cocada de maracujá é uma criança que lá está.
Mas crescemos e o lúdico vai ficando no caminho. Achamos que certas coisas ficaram para trás e certas emoções não são para nós, pois estão para sempre presas num mundo que não pode mais ser penetrado. Então culpamo-nos se algumas vezes queremos voltar ao quentinho do que parece ser a infância. Por que muitos de nós sentimos às vezes vontade de voltar a ser criança? De onde vem essa vontade, esse saudosismo tão descabido?
É uma saudade que parece boba, mas a falta de um passado visto como bom, repleto de momentos simples e felizes, sem confusões mentais em excesso, sem a preocupação de cumprir compromissos parece ser uma boa desculpa para esse sonhar acordado. Aliás, existe algo mais infante do que o sonho? Se com as experiências e as dificuldades amadurecemos, com os sonhos voltamos a ser criança. Os adultos vivem afogados na própria sobrevivência e parecem estar tão sem sonhos… Então é possível viver sem sonhos, ou melhor, é devido viver assim?
Talvez eu esteja em contato com minha infância mais constantemente. Sei que uma vez adulto, a vida parece mais fixa, imutável, mas é pura ilusão. A vida muda constantemente. Além disso, ela depende muito do significado que a damos, assim como as crianças fazem naturalmente. Volto à infância quando sinto que não guardo mágoa, quando não planejo vingança, quando perdoo com facilidade, quando não percebo maldade em certas situações, quando sorrio à vontade ou quando choro sem pudor, quando não penso em idade e na passagem do tempo, quando não perco tempo com o que não é importante. Existe coisa mais infantil do que despreocupar-se com coisas que não são fundamentais para nossa vida, naquele exato momento?
Quisera eu que todas as quedas fossem as de bicicleta, que os piores problemas fossem os de matemática, que parasse de chorar com um abraço apertado, que a dor passasse com um beijo da minha mãe, que a raiva cessasse após um chocolate quente ou que o coração partido fosse reconstruído uma hora depois. Não nos foi ensinado a como lidar com as decepções que não passam com um chamego.
Nossas regras são mais agressivas; nossas exigências maiores. Somos mais medrosos e armados e vivemos apressado. Adulto apressa-se até sem querer. Andar num ritmo louco sem ao menos saber exatamente o porquê parece ser a marca de que enfim crescemos. Correr atrás de coisas perdidas, de pessoas perdidas, de pensamentos perdidos, do tempo perdido. E assim andamos tão perdidos…
Ser adulto é estar de um jeito querendo estar de outro. É estar num lugar querendo estar em outro. É conviver com alguns querendo estar com outros. É ter ainda que representar constantemente. Aceitar quando quer negar. É esconder as dúvidas, disfarçar os sentimentos, desprezar as próprias dores. Ser adulto é não inventar mundos, mas com alguma boa vontade, ver que os mundos só mudam de nome.
Por isso que renunciar a certos símbolos da vida adulta não faz assim tão mal. Romper barreiras, desprezar preconceitos, criar novas regras, desobedecer a imposições. Quem disse que você não pode amar perdidamente? Que não pode ter um medo inexplicável de alguma coisa? Que não pode afeiçoar-se mais do que a média por seus animais, suas plantas ou seus amigos? Que não pode ter vontade de chorar na frente de qualquer pessoa? Que não pode pedir colo sem receio? Que não pode dizer “não sei” para muitas coisas e nem por isso a vida acabar?
Faz tempo que venho repensando essa vida que levamos, essas tais coisas de adulto que podem estar nos fazendo perder a espontaneidade, a felicidade ou mesmo a dignidade. Por que é tão divertido fazer coisas de criança? Talvez porque criança não esteja preocupada em ser, ela apenas é. Tantas vezes queríamos voltar para brincar só mais um pouquinho, ou simplesmente não se importar com nada, ou experimentar momentos sem seriedade, ou se apaixonar com inocência e rompante, ou sentir os sentimentos passando rapidamente.
Não se trata de um elogio à irresponsabilidade, mas de encarar a vida com a seriedade que uma criança encara uma brincadeira. Ter ciência da nossa existência estupidamente curta ( quando pequenos muita gente querida não havia ido embora, por isso não sabíamos que vamos crescendo e perdendo pessoas, e que também podemos ir embora a qualquer momento), de que seremos criança enquanto o medo do julgamento alheio comandar, do quanto não temos as coisas sob nosso controle, do quanto só o tempo ajuda a notar ilusões e bobagens, de que a vida é uma escola, de que a Arte sensibiliza e questiona, de que a leitura dos livros amplia o conhecimento e liberta, de que absolutamente tudo que é imposto é passível de ser questionado ( e deve sê-lo, aliás), do quanto somos alienados em nosso tempo para trabalhar muito e pensar quase nada, do quanto estamos sendo treinados a achar que enriquecer é mais importante do que estar com a família, de que é egoísmo achar que os que estão ao nosso redor podem estar mal e isso não influenciará em nosso bem estar, do quanto desobedecer pode ser saudável e necessário, do quanto somos afetados pelo bem e pelo mal que fazemos, do quanto o poder não passa de uma abstração – uma ideia boba e um faz de contas que só serve para manipular pessoas a fim de que elas se achem desiguais, de que idade é só um número, de que dinheiro não faz ninguém especial, de que estar com amigos faz a gente feliz, de que mãe é o melhor acontecimento do universo, de que sorrir não é solução mas ao menos deixa a alma mais leve.
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