Ela tinha saudades. Ele queria encontrá-la logo. Ela disse hoje. Ele disse amanhã. Dois sentimentos comuns, mas atrapalhados por uma sentença descompassada. Num jogo sobre quem cedia primeiro, o momento dele prevaleceu. Por fim, tomaram caminhos distintos. Cada um seguiu adiante sem que o querer fosse consumado.
Quantos relacionamentos já não foram maltratados por essa confusão verbal? Nem sempre o que sentimos acompanha de mãos dadas o que dizemos. Talvez seja ausência. Talvez seja ingenuidade. Mas só talvez. De repente, o problema não é sobre o que é dito, mas a forma na qual é dito. Mensurar palavras é um gesto árduo para quem sente demais e vivemos sob relações das quais sentir de menos é o caminho mais seguro. Lamentos depois traduzidos em adjetivos e substantivos que não comportam o tamanho do coração. Amores se perdem. Laços interrompidos sem porquês. Abandonamos o olhar sereno e o discurso brando quando temos a oportunidade de solidificar os nossos desejos.
Não sabemos de onde surgiram tamanha impaciência para se dizer o que se sente da forma que sentimos. É medo demais? Ou, quem sabe, desconhecimento do próprio sentimento? O tempo é questão de entrega e relacionamentos, também. Ninguém precisa fingir ou mesmo amenizar os sentidos das coisas. Mas, deparando-nos com a enorme responsabilidade de demonstrar afeto, muitas vezes, desistimos.
Mais adiante, percebemos a lacuna que fica. O pesar da pausa fora de hora, da partida sem destino e da cicatriz insistente no futuro. Ela deveria dizer. Ele deveria fazer. Independente do lado a tomar iniciativa, não podem existir normas regidas por um freamento daquilo que é crescente no coração. Aceitar isso é dar consequentes rasteiras numa felicidade a ser compartilhada. Conversar não é ceder os pontos. Expressar-se não é estar de joelhos para o outro. Não é o que você diz, mas a forma como diz.
Imagem de capa:siam.pukkato/shutterstock
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