Por Patrícia Dantas
Bistrôs aquecidos, baguetes quentinhas, a umidade cinzenta e fria da cidade-luz – que nesse cinzento outono-invernal, guia-se pelas luzes ofuscantes que se acendem no finalzinho das tardes – é assim, nesta breve descrição que acalenta viajantes natos, que já estamos dentro dessa Paris que festeja o que a vida tem de mais belo todos os dias do ano.
Além de Paris já falar por si para que veio, do imaginário dos mais afoitos flâneurs ao mais desatento transeunte, como nos relata Paris é uma festa, de Hemingway, e O Esplim de Paris, de Baudelaire, não precisamos mais traçar roteiros compactados para conhecer seus arrondissements, quando temos hoje, além de romances e crônicas já consagradas, sites de busca e superblogs de pessoas viajadas pelo mundo, que indicam com maestria os incontáveis pontos de Paris para se conhecer antes de morrer.
Falando assim, como não amar nossa era da informação, que nos presenteia com o universo na palma das nossas mãos? Sim, temos Paris, a Índia, a China, a Transilvânia o Polo Norte ao nosso alcance, bastam alguns cliques ou um roteiro de viagem para as próximas férias. Hoje, quase todo mundo pode viajar! Sem ironias com a modernidade, partamos já com nossas mochilas nas costas e alguns trocados no bolso. Não só Paris, mas lugares ainda nem cogitados nos esperam!
Que tal, antes de soltar a mochila no primeiro quarto de um hostel ou hotel barato, conhecer de cara o primeiro bistrô apontado em nossa direção? Claro que é bom sempre lembrar se teremos a grana para arcar com todo o consumo delicioso e apressado.
Talvez fosse ali que o lendário crítico americano Robert Parker degustou uma sequência de vinhos raros e anotou em seu caderninho valioso nota por nota, ou seria aquele o lugar em que o colunista do Paladar Estadão, Luiz Horta, escrevera um longo artigo cheio de peripécias e sugestões de como pagar somente vinte e dois euros por uma refeição completa em Paris? Não há como não cogitar coisas desse tipo quando nos sentamos numa mesinha reservada de algum bistrô desconhecido. E se for verdade, e só venhamos a descobrir depois do ato consumado? Aí teremos uma boa história para contar!
Lembro que, numa das minhas primeiras viagens de férias, e com o pouco dinheiro que juntara desde que soube que o próximo destino seria um tour por algumas cidades da Europa – incluindo Paris! – fiquei tão extasiada não só pelas paisagens vistas somente nos filmes, mas também – e quase em igual proporção -, pelos vinhos de qualidade que iria tomar a preços bem menores que tomaria aqui no Brasil! Bordeaux, Borgonha, Côtes du Rhônes – regiões que você já ouviu falar, e sempre salivou quando via algum rótulo de lá! Nem é preciso tomar daquela safra rara, que tem mais de cinquenta anos, basta mesmo um vinho da casa para você saber que está diante de uma relíquia que faz história e desperta os sentidos de muita gente, inclusive o seu.
E os Plat du Jour? Existe coisa que atice mais os sentidos? Bem, nem precisa falar. Folheava os cardápios com um frenesi no estômago, com a curiosidade e fome com que se lê um envolvente romance de García Marques.
Confesso que não sou conhecedora de vinhos safrados, vencedores de prêmios internacionais, das denominações de origem controlada e garantida, da alta gastronomia mundial, das notas, apreciações, aprovações dos críticos e da mídia. Meu grande e maior segredo é que costumo me dar por inteira às experiências enogastronômicas que, por acaso, chegam sem nenhuma intenção de provocar além do que já me permiti.
O negócio é que um novo vinho, conhecido ou não, venha de onde vier, ele acaba desestruturando algo dentro da gente, é como se fosse um novo estranho, uma pessoa que depende da nossa aceitação, da última aprovação para entrar no círculo.
E, para mim, já conquistei a regra: novas sensações para tudo!
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