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Não é que eu não te perdoei, é que você não passou no meu filtro

Chega uma hora em que a gente quer seguir com passos firmes na vida, quer olhar pra frente e seguir pelos caminhos que valem a pena. Chega uma hora que a gente aprende a ter um olhar observador, que a gente se conhece um pouco melhor e sabe como não cair tão facilmente nas armadilhas dos medos, das culpas, as ilusões amorosas.

Chega uma hora em que a gente quer viver coisas de verdade, conviver com pessoas de verdade, entrar em aventuras para evoluir e não para se divertir e estrepar, a gente sabe que o tempo é curto, que a vida é rara, que não dá para parar e prestar atenção em tudo, não dá para ouvir o que estão pensando e falando da gente, não dá para pegar no colo dores emocionais que já não nos dizem respeito.

Tem uma hora que a gente decide não querer consertar o que não tem mais jeito, que a gente já não quer discutir com pessoas que estão em caminhos tão diferentes, que a gente não acredita em gastar tanta energia para mudar uma pessoa – seja um amigo, um namorado, um parente…

Chega uma hora em que a gente não quer gastar tempo e coração remoendo, tentando viver de novo algo que não encaixou bem, a gente não quer mais se explicar, não quer mais se culpar por ter abandonado uma causa, não quer mais se sentir mal por amar mas decidir seguir o que nos engrandece e não o que nos limita e escraviza.

E a gente deixa sim pessoas que foram importantes para trás, a gente já não tem interesse em explicar, em responder mensagens, em se sentir mal por já não cuidar como antes. Podem chamar isso de egoísmo, mas eu acho que é um altruísmo na verdade – não querer atrasar o próprio caminhar e também deixar que a outra pessoa desperte para o seu propósito.

É um momento em que gente já não quer ser muleta, ouvido, colo… A gente quer ser troca; a gente não quer ceder energia, a gente quer reciprocidade. A gente não quer fazer por merecer, a gente quer ser a nossa verdade e sabe que para pessoas que valem a pena, isso basta, o que somos é suficiente e bom.

Por isso eu acredito em ter os olhos abertos e seletivos, e o coração também, mas que este seja esperto e comedido. Que o meu coração saiba se respeitar em sua amplitude e necessidades.

Eu acredito que a gente pode aprender a ver o que vale a pena seguir do nosso lado e o que a gente tem que deixar de lado.

Eu acredito que a gente tem que filtrar, abandonar, perdoar sim, mas não querer mais participar de danças que nos limitam, irritam, fragilizam.

E eu ouvi por aí esses dias de um amigo:
‘mas você não me perdoou?’
e eu disse:
‘não foi isso querido, eu perdoei sim, mas você não passou no meu filtro.’

Que loucura falar isso, que loucura fazer isso – pode parecer. Mas pra mim, liberdade mesmo é isso: seguir minha vida e ser dona do meu próprio umbigo. E o que vale a pena vem junto comigo!

Imagem de capa: STUDIO GRAND OUEST/shutterstock

Clara Baccarin

Clara Baccarin escreve poemas, prosas, letras de música, pensamentos e listas de supermercado. Apaixonada por arte, viagens e natureza, já morou em 3 países, hoje mora num pedaço de mato. Já foi professora, baby-sitter, garçonete, secretária, empresária... Hoje não desgruda mais das letras que são sua sina desde quando se conhece por gente. Formada em Letras, com mestrado em Estudos Literários, tem três livros publicados: o romance ‘Castelos Tropicais’, a coletânea de poemas ‘Instruções para Lavar a Alma’, e o livro de crônicas ‘Vibração e Descompasso’. Além disso, 13 de seus poemas foram musicados e estão no CD – ‘Lavar a Alma’.

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