Eu amo analogias e muito frequentemente me pego fazendo as mais estranhas comparações. Hoje, observando as cortinas da minha sala, constatei mais uma vez que comprei cortinas mais estreitas do que as janelas, onde um lado sempre fica descoberto. No começo achei ruim. Mas, como seria um transtorno fazer a troca, me conformei. Agora, pensando bem, vejo que comprei exatamente o tipo de cortina que me deixa confortável. Eu jamais cerraria tudo, de canto a canto, portanto, trabalho poupado. Para a minha vida, é preciso sempre deixar uma fresta à mostra; a certeza de ver o outro lado e que o outro lado me veja também.. E, vale o detalhe: a cortina é quase totalmente transparente, portanto, pouquíssima diferença faz se toda aberta ou encolhida.
Por que afinal escolhi uma cortina assim? Será medo? Será desconfiança? Serei eu uma controladora? Uma exibicionista? Pode ser que nada disso. Pode ser que tudo isso.
E nós, como administramos as cortinas das janelas do nosso mundo? Permitimos muita luz? Bloqueamos tudo? Abrimos mão da função principal e as usamos somente uma bela decoração?
Cortinas finas e delicadas, que deixam o ambiente leve e confortável e convidam a apreciar a luz que refletem, são os dias em que nos sentimos em paz com a vida, abertos para novas experiências, aconchegados e sossegados.
As persianas, que não raro se enrolam, prendem as cordinhas nas estruturas, e ao final ficam com um lado totalmente para cima e outro para baixo, podem representar aquela fase em que perdemos o foco, nos engalfinhamos com problemas, tropeçamos nas próprias pernas.
Quando nos percebemos mais introspectivos, lembramos as cortinas com forros, que rapidamente são puxados a qualquer sinal de que há luz demais onde não deveria.
Nos momentos mais complicados, tristes, depressivos, blackouts de parede a parede, com a função de manter a sombra, a escuridão.
Se livres, cortinas de voal ao vento, escorregando pelos peitoris das janelas… se presos, pesados painéis estáticos.
De todas as formas, em algum momento da vida já passamos por todas as essas cortinas, muitas vezes nos enrolamos nelas, nos escondemos atrás delas, brincamos de abrir e fechar, e até as puxamos, para arrancá-las dos seus varões.
Todas as formas estão valendo, desde que sejam sempre cortinas, e nunca escudos, nunca lacres… Que as cortinas passem por nossa vida, mas, que a nossa vida não passe somente através das cortinas. Melhor não tê-las então.