Marcel Camargo

Não espere que algo dê errado quando tudo estiver bem

Talvez a felicidade seja um estado de espírito, ou esteja presente enquanto procuramos por ela, quem sabe se encontre dentro de cada um. Fato é que ser feliz, a muitos, parece uma tarefa inglória, uma utopia, o impossível, o inalcançável. Ninguém é feliz o tempo todo – isso, sim, é utopia -, mas nunca se sentir bem ou satisfeito soa a uma patologia.

A vida é uma gangorra emocional, cheia de surpresas, tanto alegres quanto avassaladoras, porém, olhando bem, todo mundo pode ter a chance de passar por momentos alegres e especiais, por mais breves e ínfimos que sejam. Saciando a fome, sendo elogiado, terminando uma tarefa, saindo com amigos, ser visto com ternura, existem motivos que possam nos trazer algum alento reconfortante, mesmo quando a vida insiste em dizer não.

Alguns de nós, inclusive, teimamos em afastar qualquer possibilidade de nos sentirmos bem, como se estar contente não fosse algo a que temos direito. Basta nos sentirmos alegres e felizes, para começarmos a pensar que aquilo não pode estar acontecendo de verdade, que certamente algo ocorrerá e levará aquilo embora. Quanto medo de ser feliz, quanta resistência em abraçar tudo o que vem para deixar a vida mais doce e sossegada…

Parece que temos uma carga de culpa tão densa dentro de nós, que não concordamos com a ideia de que a felicidade pode fazer parte de nossa jornada. Amargamos de tal forma os erros que nos levaram até aqui, que enterramos no esquecimento o bem que já pudemos estender a outras vidas, anulando em nós qualquer merecimento de alguma coisa além de sofrimento. Sentimo-nos, assim, na obrigação de sermos punidos, sem parada, pela vida – isso é autoestima machucada, devastada, alquebrada.

Não fujamos, portanto, ao senso comum e passemos a nos valorizar, a nos amar, a praticar o “bem-me-quero”, o sou feliz porque eu posso, mereço, porque sou grato, saudável e tenho muitas qualidades. Sou feliz porque sim. As tempestades virão, mas nada poderá nos impedir de continuar acreditando, remando, nadando e seguindo em frente, trilhando o nosso caminho, vivendo as nossas verdades, sorrindo quando a vida assim nos pedir.

Temos que enxergar os nossos defeitos e assumir os nossos erros, sim, mas isso jamais poderá diminuir nossas chances de manter a esperança de uma vida melhor junto a quem vale a pena, onde os ares ventem sempre em nosso favor. Não podemos é desistir, simplesmente porque desistir de sorrir é como desistir de viver.

Imagem: Dark Moon Pictures/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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