Fabíola Simões

“Não importa o quanto algo nos machuca. Às vezes se livrar dele dói mais ainda”

Muita gente permanece numa relação ruim, sem reciprocidade, sofrendo, se desgastando, tendo esperanças em migalhas, desejando mudanças que nunca ocorrerão… porque acredita que “não importa o quanto algo nos machuca. Às vezes se livrar dele dói mais ainda”. Mas será que é assim?

Às vezes tem que doer como nunca para parar de doer. E para isso é preciso coragem. O que a vida quer de nós é essa bravura, que nos possibilita ter um tipo de amor por nós mesmos que irá nos proteger de qualquer situação que nos diminua ou aprisione. É essa coragem que nos permite arrancar band-aids de uma vez e nos autoriza desistir de algo que queríamos muito, com todas as nossas forças… mas que não nos faz bem.

Existe uma contradição nos amores que doem. Apesar de serem algo que desejamos, eles nos adoecem. Apesar de representarem nosso projeto de vida, estão sendo sonhados apenas por nós mesmos e mais ninguém. Apesar de causarem sofrimento, não queremos nos livrar deles.

Ninguém pode julgar os motivos que fazem você insistir em remar um barco de papel que está afundando. Já disseram que coração é terra que ninguém vê, e acredito nisso também. Por isso, cabe a você definir os limites. Cabe a você estabelecer o tempo necessário para processar a desistência dentro de você e, finalmente, no tempo certo, deixar de remar.

Quantas vezes colocamos expectativas demais sobre as aflições futuras que iremos sentir, e quando chega a hora, quando finalmente abrimos os olhos e percebemos que a dor já passou, nos surpreendemos como ela não doeu tanto quanto a gente achou que doeria? Às vezes você tem que fechar os olhos e fazer o que tem que ser feito, o que poderá até te deixar em pedaços no momento, mas trará paz ao seu coração.

É difícil nos livrarmos de curativos de esparadrapo que foram colados sobre o machucado. Eles estão lá quietinhos, a dor foi embora, e acreditamos que a aparente calmaria representa a cura. Porém, a ferida precisa ventilar e o curativo deve ser removido. Só que não importa o quanto ele está velho e estragado. Nos apegamos ao conforto conhecido e temos medo da dor que virá depois. Porém, mesmo aumentando a aflição, somente arrancando tudo o que não serve mais, estaremos caminhando para a cura. E um dia, depois de cicatrizada a pele, perceberemos que fizemos a coisa certa. Já não há mais dor nem sofrimento, e mesmo que tenham ficado marcas, descobrimos que terra onde a planta foi arrancada pela raiz é terra transformada e, mais adiante, terra curada.

Imagem de capa: Aleshyn_Andrei / Shutterstock

*A frase do título deste artigo foi retirada de um episódio de “Grey’s Anatomy)

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Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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