Será preciso desconstruir a imagem idealizada que tínhamos do ex e isso implica desgostar, sem simpatia envolvida. Ou isso, ou não teremos como superar e encarar o passado sem sofrimento.
Existe muita idealização a respeito dos finais de relacionamentos, recheada de aconselhamentos que, em sua maioria, prescrevem que tenhamos que querer que o ex seja feliz. Vamos falar a verdade: nenhum rompimento, de início, é tranquilo e sereno, ou seja, muitas mágoas e decepções se acumulam nesse processo. Como é que uma pessoa com o emocional em frangalhos será capaz de cultivar desejos positivos para quem saiu de sua vida sob dores e ressentimentos? Muito difícil.
E havemos de concordar com o fato de que, quando estamos ali sozinhos, sentindo o frio de nossas almas, o mais sensato a fazer é exatamente pensar em nós mesmos, no que fizemos ou deixamos de fazer, refletindo sobre o nosso papel e nossa responsabilidade sobre o que nos acontece. É assim que a gente aprende, que a gente se levanta, que a gente se torna mais gente e evita repetir os mesmos erros. Pedir, nesse momento, que olhemos para o outro, lá longe, pode soar a crueldade.
Na verdade, quando não há mais possibilidade de volta, teremos que colocar um ponto final sobre o que passou, enterrando simbolicamente uma passagem de nossa vida que não deu certo. Mesmo que tenha havido momentos bons, quando do rompimento será melhor deixar lá atrás toda e qualquer lembrança do que acabou, porque teremos que voltar a respirar de novo, sem engasgar com o que não era para ter sido. Será uma jornada muitas vezes solitária, mas terá que ser percorrida.
E mais, quando saímos de um relacionamento que nos tornava menos gente, quando fomos traídos, humilhados, relegados ao vazio em vida, teremos o direito de sentir raiva do outro, sim, mas não por muito tempo, afinal, a raiva fica na gente, no final das contas. Mesmo assim, será preciso desconstruir a imagem idealizada que tínhamos do ex e isso implica desgostar, sem simpatia envolvida. Ou isso, ou não teremos como superar e encarar o passado sem sofrimento.
Logicamente, passado o tempo necessário para nos recompormos – e todos nos recompomos -, poderemos voltar àquele passado, em nossas lembranças, revendo com mais clareza tudo aquilo, muito provavelmente sem nos sentirmos mal ou com raiva. Porém, quando esse passado doído ainda é recente, não há problema em não conseguir torcer pela felicidade do ex, pois isso é sinal de que somos intensos, temos sentimentos e nos entregamos com verdade, desde o início até o depois do fim.
Imagem de capa: Antonio Guillem/shutterstock
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