Marcel Camargo

Não precisa vir em um cavalo branco, só não seja um cavalo

A maturidade de saber que a vida não é fácil nem nunca será, por mais que lutemos e nos comportemos eticamente, acabará por nos proteger de criarmos ilusões fantasiosas sobre um mundo de faz-de-conta, bem como de aceitarmos qualquer um em nossas vidas.

Contos de fadas são passados e repassados às crianças, pontuados por finais felizes e harmoniosos para sempre, fazendo com que o imaginário de todos se recheiem com a possibilidade de viver uma vida cor de rosa, como aquelas das princesas da Disney. Esperar pelo príncipe encantado, no entanto, é permanecer na infância, tal qual uma garotinha insegura que espera um super herói que a proteja do mundo, da vida em si.

Não existe felicidade eterna, simplesmente porque ser feliz é um objetivo, não uma constante. A felicidade é o caminho que percorremos enquanto tentamos realizar nossas metas, enquanto ultrapassamos obstáculos, vencemos dores, sobrevivemos às perdas mais duras. Ninguém é feliz o tempo todo, uma vez que, caso alcançássemos a satisfação plena e última de nossa vida, o amanhã nem teria mais sentido.

O mais saudável é sorver os momentos felizes que encontramos em nossa jornada, esparsos, mas intensos; breves, porém mágicos. Com todos é assim, ou seja, esperar que o outro nos traga o que supostamente nos falta só nos servirá como prolongamento de decepções. O outro também vem com felicidade a ser procurada, com sonhos e ideais ainda distantes, portanto, não será capaz de ser um escudo, uma muralha que nos livre de passar pelo que é só nosso.

Tendo consciência de que ainda haverá muito a ser vivido e conquistado, seguiremos mais conformados com a incompletude que nos serve como motivação a jamais parar no mesmo lugar, a prosseguir, trôpegos que seja, mas seguindo em frente. Assim, ninguém esperará por um príncipe encantado que venha suprir as carências de ninguém, pois seremos fortes o bastante para entender que somos nós os atores principais do roteiro de nossas vidas.

A maturidade de saber que a vida não é fácil nem nunca será, por mais que lutemos e nos comportemos eticamente, acabará por nos proteger de criarmos ilusões fantasiosas sobre um mundo de faz-de-conta, onde a felicidade é plena e as pessoas são cordiais e transparentes. Da mesma forma, esse equilíbrio não nos permitirá aceitar em nossas vidas pessoas que trazem somente dor e sofrimento, subtração, agressão e covardia.

Porque, então, estaremos prontos tanto para receber o que fizemos por merecer, quanto para fechar as portas de nossa essência a tudo aquilo que entristece e a todos que tentarem nos diminuir e tentarem fazer com que nos sintamos menos gente, menos pessoa, menos amor. E sorrir com a alma é o que nos manterá confiantes e seguros, rumo ao que faz o nosso coração vibrar.

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena da animação “Enrolados”

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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