Para de mentir! Não diz que vai ficar, porque, na primeira oportunidade, você vai embora e me deixará aqui. Não sussurra no meu ouvido que me ama, porque não estou preparado para mais uma desilusão. Acho que minha cota de sofrimentos acabou. Estou ficando cansado de me decepcionar e de pessoas que só me fazem sofrer. Sei que me jogo de cabeça, mas qual o problema? Qual a graça de ficar nadando no rasinho?
Não tenho problemas em não saber de tudo. Não preciso de um mapa que me conduza o tempo inteiro. Quero me arriscar a descobrir o que me aguarda do outro lado da ponte. Sei que posso me decepcionar e ficar com raiva pelo tempo perdido, mas prefiro isso a viver uma vida com medo de ser vivida. Então, se você não tem coragem para ficar, por favor, deixe-me sozinho. E não adianta me dizer que eu quero demais de você, porque eu queria você por inteiro e não fragmentos que não matam a minha fome.
Mas, sabe o que eu quero mesmo? Eu quero um amor que me faça sorrir, mas que não desligue o telefone quando sentir a primeira lágrima de um dilúvio de dor. Eu quero um amor que me faça feliz e que esteja bem perto de mim quando eu precisar de um abraço forte para me acalmar. Eu quero um amor que tenha colorido e que me faça sentir aquele friozinho no umbigo. Eu quero alguém que coma chocolate, sem vergonha de lamber os dedos depois.
Eu quero sentir aquele cafuné gostoso enquanto estiver deitado no seu colo. Eu quero um amor temperamental, daqueles que nos permitem fazer loucuras. Não quero alguém que pareça não se abalar com nada, que não sinta ciúmes, que esteja sempre sob controle. Eu quero alguém que possa se descontrolar, que faça com eu me sinta vivo e amado. Eu quero um amor que me faça vibrar com a vida.
Eu quero um amor que sempre possa contar comigo, mesmo quando as angústias pareçam insuportáveis e a alma fraqueje. Eu quero um amor que bagunce a minha vida, porque de nada adianta ter uma sala bem arrumada, sem alguém pra dividir o sofá. Eu quero um amor que tenha intimidade e confidência, para que possamos gargalhar das nossas vergonhas.
Acho que você não quer ter esse trabalho e eu quero me sujar, porque, no amor, não existe facilidade, tampouco tranquilidade o tempo inteiro. Por isso, estou construindo uma jangada, onde só cabe o essencial, para que eu possa navegar pelo oceano, à procura de alguém que, como eu, tenha só uma jangadinha, mas que carrega o essencial, e que esteja disposto a enfrentar as tormentas que o mar pode ter.
Não é que eu seja romântico, só não acredito nessa engenharia sentimental e nesses amores burocratizados, que ficam medindo os níveis de envolvimento. Também não quero nada demais, embora você ache isso. O que quero é alguém que esteja por inteiro comigo e que segure forte a minha mão. Você sempre esteve ausente e nunca teve coragem para me segurar, porque tinha medo de que, se eu caísse, levasse você junto. É isso, cansei do café descafeinado. O que eu quero agora? Ah! Um café forte e bem quente. Sabe como é. Se for para queimar a língua, que seja com algo que valha a pena.
Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Diário de uma Paixão
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