Marcel Camargo

Não se contente com a “friendzone”

Infelizmente, nem todos os amores são correspondidos, ou seja, existirão momentos em que a amizade se tornará “algo mais” apenas para um, enquanto o outro desejará que nada mude. Vai doer demais ter que ouvir de quem amamos sobre outras paixões, outras aventuras, momentos que não protagonizamos.

“Friendzone” é uma expressão inglesa que se usa, atualmente, para caracterizar as situações em que uma pessoa ama alguém que só quer manter a amizade – daí a “zona da amizade”. É muito comum, aliás, uma amizade se transformar em amor, porém, quando isso ocorre somente para um dos envolvidos, as coisas costumam complicar.

Em tempos de relacionamentos rasos, em que ninguém parece disposto a mergulhar com tudo na entrega ao outro, seja por medo da rejeição, seja por não se querer lutar todas as batalhas que envolvem os verdadeiros encontros amorosos, as amizades sinceras parecem nos oferecer tudo aquilo de que os relacionamentos precisam. Encontrar, então, alguém que respire reciprocidade é apaixonante.

Não raro, a amizade chega a um ponto em que nos ocorrem dúvidas quanto ao que realmente estamos sentindo pelo outro. Quando há verdade e transparência, compromisso e cumplicidade, podemos nos perguntar por que não tentar transformar a amizade em amor. Afinal, o amigo já nos conhece bastante, sabe de nossos sonhos, de nossos medos, já chegou junto a nossas escuridões até. Por que não repousar ali o amor que temos para viver?

Infelizmente, nem todos os amores são correspondidos, ou seja, existirão momentos em que a amizade se tornará algo mais apenas para um, enquanto o outro desejará que nada mude. Mas não dá para não mudar, pois nada mais será como antes, após o amor se instalar em apenas um lado, porque vai doer demais continuar recebendo sorrisos, quando queremos beijos. Vai doer demais ter que ouvir de quem amamos sobre outras paixões, outras aventuras, momentos que não protagonizamos.

Não tem como esconder o que sentimos em relação a alguém, porque jamais haverá oxigênio suficiente quando um amor nos sufoca, portanto, teremos que expressar o que sentimos, embora nem sempre encontremos retorno afetivo que nos baste. E, caso não haja ida e volta, na mesma medida, caso não haja resposta, ali, ao amor que ofertamos, não permaneçamos a sofrer, porque então a amizade não mais nos bastará. Contentar-se com a “friendzone”, nesse caso, equivalerá a sofrimento sem fim. E amor não é isso, nunca foi e jamais será.

Imagem de capa: VGstockstudio/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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