Por Raquel Brito
Não apenas a tristeza contínua e intensa ou, melhor dizendo, o estado de ânimo sem esperanças, desanimado ou “no fundo do poço” é indicativo de depressão. De fato, a tristeza como sintoma pode não se manifestar em uma pessoa deprimida, sendo a sua prima irmã a irritabilidade.
Sim. Por mais estranha que esta afirmação pareça, uma pessoa deprimida pode não se mostrar triste mas se manifestar de forma irritada, instável ou frustrada. As queixas somáticas, o mau humor, os incômodos, as dores físicas, as montanhas russas emocionais, etc. Tudo isso pode substituir a tristeza como sintoma de um problema emocional como a depressão.
Portanto, poderíamos dizer que as manifestações de raiva, como a insensibilidade, a irritabilidade, a agressividade, e o comportamento “autoritário” são, às vezes, gritos que pedem para sair do buraco de escuridão no qual a depressão sufoca.
Segundo critérios tanto do Manual Diagnóstico dos Transtornos mentais na última versão (DSM-5) como na Classificação Internacional de Doenças (CIE-10), um diagnóstico clínico de depressão pode ser realizado se a pessoa mostrar, entre outras condições, irritabilidade em vez de tristeza.
Isto é, se uma pessoa constantemente mal-humorada mostra uma ira persistente, uma tendência a responder aos acontecimentos com ataques de ira, insultando aos outros ou com um sentimento exagerado de frustração por coisas sem importância, pode estar afundada em um estado de ânimo depressivo patológico.
Em crianças e adolescentes pode se manifestar um estado de humor irritadiço ou instável mais que um estado de ânimo triste e desanimado. Isto precisa ser diferenciado do que se considera um padrão de “menino mimado”, com irritabilidade frente às frustrações.
Contudo, cabe ressaltar que do mesmo jeito que a tristeza por si só não é um critério suficiente de depressão e precisa de outras conotações para ser considerada patológica, o mesmo acontece com a irritabilidade.
Concretamente, para fazer um diagnóstico de depressão segundo os sistemas classificatórios citados, estas duas condições em separado são necessárias, mas não suficientes. Portanto, não se pode interpretar que basta estar triste ou irritado para estar deprimido.
A tristeza e a irritabilidade, por si sós, são estados emocionais saudáveis, pois pretendem nos informar de que existe algo que nos incomoda e que está nos prejudicando. Eles somente se transformam em patológicos quando distorcem as nossas vidas e deterioram demasiadamente as nossas esferas sociais e profissionais durante muito tempo.
Em geral, é preciso ter cuidado com a irritabilidade porque ela pode nos levar a fazer qualquer coisa sem que consideremos as consequências negativas. Portanto, um estado persistente tingido desta instabilidade característica pode chegar a ser devastador.
Perder a linha com facilidade, fazer comentários desagradáveis, ser pouco tolerante, demonstrar impaciência, sentir nervosismo, manifestar agitação, ter reações inadequadas, começar a se afastar de certas pessoas por serem desagradáveis, etc. Tudo isso indica que alguma coisa não está bem na própria vida e que é preciso tomar medidas.
Portanto, a ira ou a irritabilidade que se manifestam quando padecemos de uma depressão é uma forma de externalizar o que se sente e não está sendo expressado. Podemos dizer que a pessoa deprimida tem a sensação de estar oprimida, de levar no pescoço um cachecol que pesa toneladas.
Isto a faz se sentir afundada, vulnerável, com a impressão de que esse cachecol não a deixa caminhar, dificultando a sua vida e descompensando o seu ânimo. Isto causa a instabilidade e a dificuldade que essas pessoas têm de realizar suas atividades no dia a dia.
Portanto, com a pouca força que esse tenebroso cachecol lhes permite ter, conseguem, quando muito, comer alguma coisa e dormir. Este é o peso da angústia, a qual se traduz em uma realidade asfixiante de tristeza ou irritação dependendo da pessoa e, obviamente, do momento.
TEXTO ORIGINAL DE A MENTE É MARAVILHOSA
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