Não sofra o tempo todo para deixar os outros confortáveis

Amadurecer requer ter a consciência de que será necessário, muitas vezes, fazer o que não é gostoso, o que não se quer, pois a vida não é uma festa sem fim. Crescer implica dor e sofrimento também, uma vez que não dá para fortalecermos o que temos de mais nosso, sem que passemos por longas transformações – toda e qualquer transformação é dolorosa.

Crescer traz a necessidade de sair de si mesmo, entendendo que o mundo vai além do próprio umbigo e que as pessoas não estão aí para servir aos desejos alheios. Relacionamentos mais saudáveis são marcados por concessões de ambas as partes, para que o amor se ajuste ao que cada um possui e é verdadeiramente, ou seja, cada parte envolvida na relação necessita doar-se ao outro, a fim de que a balança não acabe vergando para um só lado.

Maturidade também requer a compreensão de que ninguém é querido por todo mundo, ninguém vai agradar o tempo todo, ou seja, não há unanimidade no gostar. Seremos magoados e também magoaremos, muitas vezes sem querer, porque não conseguiremos atender a determinadas expectativas que criarem sobre nós. E, caso queiramos agradar a todo mundo, seremos cada vez mais infelizes, pois enterraremos para sempre o que temos de mais verdadeiro dentro de nós.

O que não devemos é sempre fazer os programas sugeridos pelo colega, nunca pensarmos nos nossos gostos quando formos cozinhar, estarmos a todo momento disponíveis, sempre dizendo amém. Se assim agirmos, estaremos sendo negligentes com nossos sonhos, nossos projetos, nossas responsabilidades, esvaziando-nos enquanto pessoa. Em muitos momentos, teremos que pensar em nós mesmos, enquanto assistimos à ingratidão de quem ouviu o nosso não.

Obviamente, não é possível só pensar em si mesmo, deixando de lado o que o outro sente, porque assim estaremos passando por cima de quem deveria estar sempre ao lado, junto. Às vezes, teremos que abdicar de algo nosso, seja por amor, por gratidão, seja por solidariedade. Porém, se nos anularmos o tempo todo, em favor de qualquer um, acabaremos nos tornando infelizes e vazios.

Imagem de capa:SibFilm/shutterstock







"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.