Ainda de férias, ontem assisti ao arrebatador “Questão de Tempo” (About Time – 2013) com meu filho. Entre travesseiros, cobertores e edredons que julho trouxe, e na penumbra do quarto escuro, o filme com mais de 120 minutos se desenrolou ligeiro e, quando os créditos finais subiram, eu estava em prantos. Ao mesmo tempo, grata por ter vivenciado esse tempo bom ao lado do meu menino que está crescendo rápido demais.
Muito além de uma comédia romântica água com açúcar, o longa de Richard Curtis faz uma belíssima reflexão acerca de nossas escolhas e sobre a forma como decidimos usufruir nosso tempo. A pergunta que o filme sugere é: “E se cada momento da vida viesse com uma segunda chance?”
Há tempos não assistia a um filme que despertava tantas emoções em mim, e confesso que desde então tenho feito o exercício de me esforçar para estar inteira no que faço, e de tornar todos os momentos prazerosos, até aqueles mais difíceis ou complicados.
Quanto à questão das escolhas, ou o que eu faria se a vida me desse uma segunda chance, penso que tudo o que experimentei até aqui foi necessário para que eu me tornasse quem eu sou e, no fim das contas, eu gosto do que vejo. Sendo assim, tudo o que aconteceu até o momento, seja bom ou ruim, foi um caminho.
Não tem como ser um erro se foi um caminho. Não tem que haver arrependimento se você deu o seu melhor. Não tem que sentir culpa, se você foi de verdade. Não tem como achar que foi tempo perdido, se de alguma forma te modificou para sempre.
Queria te dizer que quando você se sentir tentado a lembrar do passado com arrependimento ou mágoa, faça o exercício de imaginar como estaria sua vida hoje se você tivesse sido poupado das “provas de fogo” pelas quais já passou. Nem sempre as dores são infortúnios, muitas vezes elas são bênçãos disfarçadas. Muitas vezes nos lapidam, aprimoram, e nos dão a capacidade de reverenciar os momentos de uma forma que seria inimaginável antes.
Bartolomeu Campos de Queirós, em seu “Vermelho Amargo” que me fascina, escreveu: “Há dias em que o passado me acorda e não posso desvivê-lo”. Bartolomeu e nós, meros mortais, realmente não podemos desviver o passado como os personagens de “Questão de tempo”. Viagens no tempo estão fora de cogitação, e por isso torna-se primordial viver o tempo que nos resta com maestria, entendendo que, se assim o fizermos, é desnecessário almejar superpoderes que nos permitam refazer nossa jornada, pois teremos olhado a vida com tanta sensibilidade e presença, valorizando quem amamos e os instantes mágicos que vivemos, que não restará nem sombra de arrependimento.
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