Marcel Camargo

Não tenho medo de compromisso e sim de estar perdendo o meu tempo

Quantas e quantas vezes nos entregamos de corpo e alma, com tudo, a um relacionamento e, com o passar do tempo, vamos nos vendo enterrados em uma relação sofrida e que pende somente para o nosso lado? Quantas e quantas vezes não conseguimos ter de volta nem metade do tanto que oferecemos, que nos doamos, que amamos com inteireza e dedicação sincera?

Aqueles que foram feitos para amar com intensidade e compartilhar nada menos do que tudo costumam se abrir a quem, muitas vezes, não vem com certezas, nem devolve na mesma medida a carga afetiva partilhada. É assim que se perde tempo, que se mergulha no vazio, que se colhem decepções. É assim que muita gente passa a desacreditar do amor, da possibilidade de encontrar reciprocidade completa junto a alguém.

Sempre existirá quem não devolve completude, quem não se doa por inteiro, quem se acostumou a receber sem precisar oferecer nada em troca, quem não enxerga ninguém além de si mesmo. Seja por conta das decepções acumuladas, do medo de ser usado, exposto, seja por conta do egoísmo por si só, a verdade é que cada vez menos pessoas parecem dispostas à entrega máxima e transbordante que o amor requer.

Relacionamentos que não deram certo porque os desencontros acabaram por distanciar os parceiros, embora tivessem ambos tentado não soltarem as mãos, deixam marcas doídas, mas que acabam nos fortalecendo quanto ao que realmente queremos. Por outro lado, os relacionamentos que mal começam e já parecem fadados ao fracasso, devido ao não comprometimento de uma das partes, enfraquecem nossas certezas.

Nem todos os relacionamentos terão finais felizes, nem todo amor será correspondido, nem todo mundo sai com a dignidade intacta após um rompimento doloroso. Porque algumas pessoas simplesmente não se doam, não se entregam, não se devolvem nem o mínimo que seja, acuadas que se encontram pelas amarras da insegurança e da desconfiança. Não se permitem amar de verdade.

Não tema o que possa vir a dar errado, ou jamais conseguirá se encontrar e encontrar alguém que dividirá a vida com você sem vírgulas. Muitas vezes, as coisas dão certo, sim, e, quando isso acontece com a gente, a sensação de tudo ter valido a pena compensa cada lágrima do que tenhamos sofrido até então. É a vida.

Imagem de capa: Maksim Toome/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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