Pamela Camocardi

Não viva o amanhã. Você ainda não o tem

Imagem de capa marvent, Shutterstock

A sociedade atual baseia seu planejamento no amanhã. A certeza de que futuro existirá é tamanha que faz de alguns escravos de uma agenda fictícia. Planeja-se, minuciosamente, tudo: de compras a longo prazo à encontros sociais. Só há um detalhe esquecido nesse espaço de tempo: o amanhã não existe!

Clarice Lispector, em ‘Um Sopro de Vida’, escreveu sobre o tempo de forma tão objetiva e tão sábia que leva o leitor a refletir sobre sua própria existência: “O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio.

Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo.

Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em diante o tempo vai ser sempre atual. Hoje é hoje. Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado.

E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje. O paroxismo da mais fina e extrema nota de violino insistente. Mas há o hábito e o hábito anestesia.”

A vida é tão frágil e rápida quanto um piscar de olhos e admitir que o “ser” é mais importante do que o “ter” é essencial. Hoje é o dia de admitir a falta de alguém, de admitir que a companhia vale mais que a solidão, de abrir mão da saudade, de aceitar os erros dos outros, de amar, de esquecer, de virar a página, de encerrar a história.

Hoje é o dia de perdoar a pessoa que te apunhalou pelas costas, mesmo que isso te custe mais dor. Acredite hoje é o dia! Até porque, meu caro, você só tem ele!

Mário Quintana tem uma definição perfeita disso. Em “Seiscentos e Sessenta e Seis” (Poesia Completa, Rio de Janeiro: Nova Aguilar. 2000), o poeta retrata o tempo como efêmero: “A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. Quando se vê, já são seis horas! Quando de vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal… Quando se vê, já terminou o ano… Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. Quando se vê passaram 50 anos! Agora é tarde demais para ser reprovado… Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…

É necessário parar de viver e de sofrer pelo futuro. É preciso colocar os pés no chão e entender que o que se tem em mãos, é o agora e o bem que se fez ao próximo…e só isso! E, como diz Oscar Wilde: “Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.”

Pamela Camocardi

A literatura vista por vários ângulos e apresentada de forma bem diferente.

Recent Posts

Agnaldo Rayol falece de forma trágica aos 86 anos e deixa legado na música brasileira

O cantor Agnaldo Rayol, uma das vozes mais emblemáticas da música brasileira, faleceu nesta segunda-feira,…

20 horas ago

Padre causa polêmica ao dizer que usar biquíni é “pecado mortal”

Uma recente declaração de um padre sobre o uso de biquínis gerou um acalorado debate…

20 horas ago

A triste história real por trás da série ‘Os Quatro da Candelária’

A minissérie brasileira que atingiu o primeiro lugar no TOP 10 da Netflix retrata um…

21 horas ago

Você sente “ciúme retroativo”? Ele pode arruinar as relações

O ciúme retroativo é uma forma específica e intensa de ciúme que pode prejudicar seriamente…

3 dias ago

Reese Witherspoon volta à comédia romântica neste filme encantador que conquistou o público da Netflix

Este comédia romântica da Netflix com uma boa dose de charme e algumas cenas memoráveis…

3 dias ago

Dica Netflix: Filme com Chris Evans baseado em um inacreditável caso real vai salvar a sua noite

Baseado em uma história real de tirar o fôlego, este filme de ação estrelado por…

3 dias ago