Houve um período da modernidade em que as pessoas viviam com a mente no futuro. Era no por vir que estava a esperança, era o futuro que seria melhor, eram no futuro as apostas e para ele se voltavam as ações. Talvez pela desilusão e com o fim das velhas utopias, agora ter a mente no passado é a nova mania. Temos a geração dos nostálgicos por excelência, que paradoxalmente aposta no passado, porque antigamente era melhor… melhor pra quem? Há nesse pensamento que tende para trás uma fragilidade que tende a passar despercebida.
Não é que devêssemos desvalorizar o passado, pelo contrário, não existe fonte mais segura de aprendizado do que aquilo que já foi vivido. Mas ficar suspirando por tempos supostamente melhores é uma atitude ingênua, senão infantil e negligente, pois pelo passado não se tem qualquer responsabilidade, não há possibilidade de ação pelo que já foi feito, não há perspectiva de mudança do que já passou. Se há algo de realmente importante no passado é resgatar ou perpetuar o que ele teve de melhor e estar atento ao que “deu errado” para evitar repetições. Ainda assim, a cautela nunca é demais, é preciso ter algo de perspectiva, afinal, outros tempos são outros tempos.
Velhas alternativas não funcionam para novas situações sem passar antes por adaptações. Para que o passado seja de fato uma fonte de conhecimento é preciso ter algo da ação, da percepção ampla do presente de modo a transpor as barreiras do tempo. É preciso ter algo de uma visão de futuro para tentar antever consequências. É preciso pensar fundo, respirar fundo, sentir fundo, é preciso ter atitude e estar presente.
É muito fácil pensar que algo antigamente foi melhor e lidar com falsas estatísticas ou constatações generalistas. Pensar, por exemplo, que as pessoas se relacionavam melhor por não haver tecnologias. Obviamente, quem não viveu naquele tempo, não sentiu dele as mazelas na pele. Mas qualquer um que tenha se dedicado um pouco aos livros históricos, de literatura que sejam, sabe que haviam outros tipos de opressão e obstáculos para as relações genuínas, como uma divisão mais rígida nas relações pessoais devido à classe social, para apenas citar um exemplo.
Outra ilusão é pensar que os relacionamentos “amorosos” eram mais profundos e duráveis. Claro! O casamento foi por muito tempo uma ferramenta de negociação onde a mulher era o produto, por muito tempo não se tratava sequer de uma escolha, e, como em uma empresa, havia uma hierarquia clara a ser respeitada. Duravam sim, de fato, pela repressão social ou pelas imposições da lei, onde, inclusive, o adultério feminino era passível de punição legal, ou o homicídio passional era passível de perdão. Mesmo que separar-se e seguir com as próprias vidas fosse um desejo do casal, ambos estavam presos a uma convecção. Onde está o amor nisso? Onde está o melhor?
Alguns acreditam ainda que as regras de civilidade eram mais respeitadas e consequentemente a sociedade era mais gentil e solidária. Sério mesmo? Nunca ouviram falar das humilhações públicas e gratuitas, que poderiam perseguir uma pessoa por toda vida? Dos maus tratos aos servos, da primazia da aparência nas classes abastadas? Mas, “peraí”, isso se parece bastante com “hoje em dia”, com a pequena diferença de que, atualmente é possível denunciar esse tipo de atitude e discuti-la, onde antes, qualquer um que contra elas se colocasse corria o risco de ser tão ridicularizado quanto os que sofriam tais perseguições.
Já se pensou queimar na fogueira por fazer um chazinho para gripe? E ser apedrejada por ser denunciada por seu marido psiquicamente comprometido que tem delírios com traição? Não poder sair na rua sozinha, não por medo da violência, mas por uma convenção social instransponível, que tal? E se você ficasse desempregado por seis meses e nunca mais conseguisse se recolocar pela má fama adquirida por ter, uma vez, perdido o emprego? Ter nascido em uma família de classe econômica precária e ser obrigado a seguir a profissão dos seus pais, com pouca ou nenhuma perspectiva de mudança? Ser apaixonado por uma moça e ter que casar-se com outra por esta ter um melhor dote ou, caso contrário, arruinar-se socialmente e consequentemente financeiramente? E não seria maravilhoso viver num período de guerra mundial? É desse antigamente que as pessoas falam?
O antigamente é uma espécie de romance utópico no qual tudo parece melhor simplesmente porque não precisa ser encarado de frente. Segundo a regra do “antigamente”, todos pensam em si mesmos vivendo em uma família nobre, abastada, liberal e carinhosa, que simplesmente não existe nem nunca existiu como regra geral. Viver o agora e lidar com a responsabilidade de torna-lo melhor é um desafio constante e cansativo, e os braços sedutores de um passado inventado nos convida a adormecer em seu seio quente, mantendo-nos inertes e cegos às qualidades do nosso próprio tempo. Na verdade, é a amargura que nos cerceia e nos impede de viver. Refugiamo-nos no túmulo do tempo sem usufruir nem mesmo dele.
É difícil enxergar no meio caos, e o caos é sempre o momento vivido, onde tudo acontece e é preciso colocar-se ali, para ver e viver o pior ou o melhor. Creio eu que esses adoradores do passado, vivessem no tempo que aclamam e consideram foram melhores, ao lidar com a realidade, queixar-se-iam novamente, invocariam tempos ainda mais remotos, até que retornassem aos períodos anteriores à invenção da roda e não pudessem mais pensar ou imaginar um antigamente para o qual retornar.
Se for para aclamar o antigamente, que sejamos atores em resgatar dele o melhor sem o temor de ser ridicularizado pelo nosso anacronismo. Temos o benefício de um acervo gigantesco e disponível das maravilhas que foram produzidas em tantos outros tempos. Recuperemos as artes, as músicas, as filosofias, alguns modos, palavras e modas. Temos a liberdade de trazer do passado os benefícios revistos, relidos, reinterpretados. Temos o potencial do bricoleur, para fazer da nossa vida um mosaico com o melhor de todos os tempos e reinventarmos o nosso próprio.
Mas para isso é preciso substituir os suspiros por aspirações, a inércia por ações. Se for para suspirar, que seja pela emoção em poder acessar todas essas belezas e inventar belezas outras, e lamentar apenas que no passado tantas mentes brilhantes e insaciáveis não pudessem desfrutar de toda essa fonte que nós temos disponível, mas que infelizmente não utilizamos em todo o seu potencial, por nos submetermos a uma falsa lógica de que o homem contemporâneo não tem mais o que inventar. Talvez hoje, a nossa urgência mais latente seja reinventar a própria vida, que anda dispersa entre as promessas do passado do futuro, enquanto o presente escoa pelos ralos dos delírios de grandeza e da lamentação.
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