Em sua coluna no UOL Viva Bem, a jornalista e mestre em gestão em saúde Cristiane Segatto publicou hoje uma entrevista esclarecedora com a médica Viviane Veiga, que é Coordenadora de UTI da BP — a Beneficência Portuguesa de São Paulo — e presidente eleita da Sociedade Paulista de Terapia Intensiva (Sopati).
A médica recentemente publicou um estudo que analisa o efeito da droga tocilizumabe, atualmente usada para artrite, em doentes com covid em estado grave. Na entrevista, ela conta que o tocilizumabe não se mostrou benéfico nos pacientes da doença. Além disso, a mortalidade foi maior no grupo que tomou a droga. Quinze dias depois de receber a medicação, houve 11 mortes no grupo que recebeu a medicação contra artrite e duas no grupo tratado de forma convencional. Não houve diferença em termos de causa de óbito. As mortes não parecem estar relacionadas ao uso da medicação.
Quando perguntada se algum dos pacientes analisados na pesquisa tinha usado cloroquina, hidroxicloroquina ou ivermectina, ela contou que, em maio, aproximadamente 18% dos pacientes estavam usando hidroxicloroquina no dia da inclusão no estudo. Usaram no hospital ou já tomavam em casa quando foram internados.
“Hoje o uso de hidroxicloroquina em ambiente hospitalar virou exceção. Apesar da pressão de familiares dos pacientes e de alguns colegas médicos que seguem prescrevendo. Infelizmente, o Ministério da Saúde difundiu o tal ‘kit covid’ e vimos muita apologia ao uso de vitamina C, vitamina D, zinco, ivermectina, nitazoxanida (conhecida como Annita). Não há evidência científica de que essas coisas funcionem contra a covid.”, esclareceu Viviane.
Sobre os médicos que prescrevem esses medicamentos contra Covid-19, ela foi enfática: “Tudo isso é um enorme desserviço. Com tanto negacionismo e fake news, as pessoas buscam poções mágicas. Ao longo dos meses, vimos o Ministério da Saúde com esse posicionamento de negar a doença e o alto escalão do governo andando no meio da multidão, sem máscara e negando a importância da vacina. O resultado está aí: mais de 210 mil mortos. Será que deveríamos ter deixado chegar a esse ponto?”
Viviane disse sofrer pressão de familiares de pacientes para usar essas drogas. “Como coordenadora de UTI, muitas vezes preciso entrar no corpo a corpo com as famílias dos doentes. Elas querem trazer médicos externos, procuram soluções milagrosas. Recebemos pressões, telefonemas em desespero. Explico que faço medicina baseada em ciência. Se houver evidência científica, pratico o que os estudos demonstram. Do contrário, não. Não há estudo sério mostrando benefício. Pelo contrário, há aumento de alterações em eletrocardiograma e exames de fígado.”
“Não podemos nos levar por ideologia e ceder a esse tipo de pressão. Não prescrever a hidroxicloroquina não é uma decisão vinculada a qualquer questão política. Meu vínculo é com a ciência.”, disse ainda a médica.
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Redação Conti Outra, com informações de UOL.
Foto destacada: Arquivo Pessoal.
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