Marcel Camargo

Nasce uma estrela: uma história de amor que nunca envelhece

Um artista renomado se apaixona por uma aspirante ao estrelato e acaba por levá-la à fama, enquanto sua vida pessoal e sua carreira entram em franca decadência, devido ao seu vício em álcool e drogas. Na versão mais recente, os amantes chamam-se Jackson e Ally. Este é o mote que embala o enredo de “Nasce uma estrela”, filme que já teve quatro versões, sendo a mais recente, de 2018, estrelada por Bradley Cooper e Lady Gaga.

Interessante notar que todas as versões da história obtiveram êxito, cada uma a seu tempo. As versões se revestem do contexto e da roupagem do momento em que são filmadas e todas conseguem alcançar os corações do público, ontem e hoje. Isso porque se trata de uma história de amor atemporal, cujas características sempre serão contemporâneas. O amor, aliás, nunca sai de moda.

Vários elementos com que nos identificamos se encontram ali: a paixão à primeira vista, um talento escondido, a conquista do sucesso profissional, a perda de si mesmo, o não conseguir lidar com tudo o que a vida traz, amar e não conseguir ficar junto. A trilha sonora primorosa só vem contribuir com a força desse encontro, que se vai tornando desencontro, distância e sofrimento, enquanto Jackson não se liberta de seus fantasmas, apesar do sentimento arrebatador que lhe toma os sentidos.

O público se identifica com a história e seus desdobramentos de imediato, em grande parte porque relacionamentos amorosos, na vida real, também são assim: difíceis, complicados, embora surpreendentes. As personagens são humanas como nós, sofrem como nós, sonham e amam como nós, sem perfeição intacta. Vícios e paixões humanas, em seu estado bruto, encontram-se ali, desnudados: ambição, inveja, cobiça, egoísmo, fraqueza, competitividade. O que se vê na tela é o que se vê na vida.

Jackson não consegue digerir sua história, não faz as pazes com seu passado, não perdoa, não se perdoa e, dessa forma, perde-se de si, sem volta. Por mais amor que sentisse por Ally, por mais que fosse amado por ela, acabou percebendo que não poderia mais ajudá-la, após ser catapultada ao estrelato. Percebendo-se um entrave, um obstáculo à vida de Ally, então desiste.

Certamente, o que cativa mesmo é a capacidade que o amor tem de mudar vidas para sempre, de transformar as pessoas, tornando-as melhores e mais confiantes de tudo o que possuem e podem fazer. Nem todas as histórias de amor possuem um final feliz, mas todas elas possuem momentos felizes e inesquecíveis, todas elas nos trazem aprendizado, força e novos olhares sobre o mundo.

Tudo passa, mas algumas pessoas, mesmo ausentes, ficam para sempre.

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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