Junto com o lançamento da nova coleção de camisas da seleção brasileira pela Nike em agosto desse ano, surgiu uma grande polêmica que a marca precisou administrar. Muitas pessoas criticaram o fato de que uma série de palavras ligadas a religiões de matrizes africanas apareciam como “indisponíveis” no serviço de customização oferecido pela marca.
Nas redes sociais, inúmeros internautas levantaram a questão de que, enquanto não se permitia que “Exu” e “Ogum” fossem inscritos nas costas da camisa, termos como “Jesus” e “Cristo”, por outro lado, estavam liberados.
Considerando a possibilidade de a prática configurar discriminação religiosa, um funcionário público enviou uma representação ao Ministério Público Federal (MPF) solicitando que o órgão investigasse o caso.
“Amém Jesus” pode, “Laroyê Exu” não pode.
Por que essa segregação religiosa, @Nike? pic.twitter.com/MqVWba4lxi
— Rennan Leta (@rennanleta) August 15, 2022
Através da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão no Rio de Janeiro, o MPF se reuniu com a Fisia, distribuidora da Nike no Brasil, e no último dia 11 de novembro firmou acordo com a empresa.
A Nike se comprometeu a garantir que a política de marketing da marca – que proíbe a customização das camisas de times e seleções esportivas com palavras ligadas a temas religiosos – não seja praticada de forma a incorrer em discriminação religiosa.
Deste modo, termos relacionados a quaisquer religiões, sejam cristãs ou de matriz africana, passam a ser “indisponíveis” para os consumidores que quiserem customizar suas camisas. As palavras “Jesus” e “Cristo” já haviam sido incluídas na lista de termos de uso vedado pouco depois do surgimento da polêmica nas redes sociais.
A procuradora da República Aline Caixeta explicou à BBC Brasil que não cabia ao MPF questionar a política de marketing em si da empresa, por se tratar de uma determinação internacional. O esforço, segundo ela, foi o de garantir que não houvesse discriminação religiosa.
Nesse sentido, a companhia se comprometeu a “aperfeiçoar” a lista de termos proibidos e a criar um canal de comunicação para receber reclamações e alertas de consumidores.
Também foi acordado que a’diversidade religiosa’ esteja na pauta de três eventos que serão realizados antes e durante a Copa. Um deles é a gravação de um podcast com o jogador Paulinho, do Bayer Leverkusen. Ao fazer um gol pela seleção brasileira olímpica em um jogo contra a Alemanha em Tóquio em 2021, o atleta comemorou fazendo um gesto em referência à flecha do orixá Oxóssi.
“Achamos que podíamos avançar, buscando essas medidas de reforço positivas para levantar a discussão pública sobre a diversidade religiosa, o respeito à diversidade e a tolerância.”
A lista de termos “indisponíveis” no site da Nike vai além das palavras de cunho religioso e inclui vocábulos de cunho racista, palavrões e nomes de políticos.
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Redação Conti Outra, com informações da BBC.
Fotos de capa: REPRODUÇÃO/NIKE.