Marcel Camargo

Nem todo mundo que você ama te abandonará

A sensação de abandono é muito dolorosa e nos amedronta ter de passar por isso. Parece que, quando assim nos sentimos, voltamos a ser aquela criança assustada em meio a uma multidão de estranhos, quando nos perdíamos de nossos pais, ou quando eles se atrasavam para nos pegar na escola. Quando nos vemos largados, esquecidos, sentimo-nos vulneráveis, frágeis, menos do que um nada.

Somos seres com necessidade de compartilhamento, de acolhimento, de sentimentos recíprocos, sendo desagradável e dolorido o retorno de um vazio que nada traz de volta, como se plantássemos sementes estéreis em terreno infecundo. Desde pequenos, ansiamos por sermos aceitos, primeiramente pelos nossos pais, mais tarde pelos amigos e por aí vai. Dá para ser feliz sozinho, quando optamos por ser solteiros, porém, é difícil encontrar a felicidade quando nos dão as costas enquanto pedimos exatamente o contrário.

Inevitavelmente, sentiremos o abandono de forma pungente, ao longo de nosso caminhar, pois veremos partir os amigos mais próximos, os familiares mais queridos, os momentos, os amores e desamores, por entre sorrisos e lágrimas, seja para outras cidades, outros moradas, outros abraços, seja para o mundo depois desse. As pessoas e os momentos simplesmente vão embora, com ou sem despedida, por mais que a gente lute contra, ainda que a gente implore e grite contra isso.

Mesmo assim, felizmente, conseguiremos manter junto de nós algumas pessoas, muitas lembranças, objetos, fotos, sonhos, seja lá fora ou aqui bem dentro da gente. Sempre haverá quem não desistirá de nós, quem acreditará no nosso melhor, quem aceitará nossas falhas, quem nos resgatará de nossas escuridões e nos reerguerá dos escombros de nossas derrotas. Haverá quem nos ame e nos acompanhe até o fim de nossas vidas. E haverá muito a ser guardado dentro do coração da gente.

Viver é assim mesmo, é uma surpresa atrás da outra, algumas boas, outras péssimas. É um partir e chegar de gente e de momentos, sem aviso prévio, muitas vezes sem oportunidades de dizermos adeus. É prazer e dor, satisfação e decepção, tempestade e bonança. Porque nada que passa em linha reta pode ensinar alguma coisa, nada que vem fácil demais nos torna mais gente, nem nada cai do céu. Não podemos é deixar que esse medo de abandono nos impeça de trazer gente para junto de nós, sempre, pois aqueles que ficarem serão sempre os únicos que deveriam ter ficado. Ninguém mais.

Imagem de capa: bondart/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

Especialista em linguagem corporal desvenda significado de gesto do filho de Trump na posse

Barron Trump chamou atenção na cerimônia de posse do pai ao fazer um gesto curioso.…

17 horas ago

Filme romântico que chegou na Netflix vai aquecer seu coração e melhorar seu dia

Um filme doce, charmoso e divertido que oferece um descanso para o cérebro e faz…

19 horas ago

Pescadores se chocam ao descobrir restos mortais de criatura bizarra em pântano

Os pescadores dizem nunca terem visto nada parecido antes e descrevem o ser como "assustador"…

24 horas ago

Itens de luxo e viagens caríssimas: o que Fernanda Torres pode ganhar caso seja indicada ao Oscar

A atriz, que foi presenteada com mimos avaliados em até 1 milhão de dólares ao…

1 dia ago

Quem procurar quando você está desesperado e não sabe em quem confiar?

Quando enfrentamos momentos de desespero e não sabemos em quem confiar, a busca por ajuda…

2 dias ago

A importância da hidratação na rotina dos gatos

Você sabia que uma boa hidratação é fundamental para a saúde do seu gato? No…

2 dias ago