“Eu sou um girassol, meio esquisita
Se eu fosse uma rosa, talvez você me quisesse…”

A frase acima faz parte da música “Sunflower”, do ótimo filme “Sierra Burgess é uma Loser”, comédia romântica adolescente lançada recentemente no Netflix. Assisti ao filme ao lado do meu menino, adolescentinho de doze anos que ainda está descobrindo um bocado sobre a vida e suas imperfeições, amor-próprio e auto-aceitação, insegurança e superação. O filme é lindo, cheio de mensagens importantes, alguns deslizes de nossa heroína imperfeita (sim, o “catfish” foi injusto!), e um final bonitinho. Porém, o que mais me cativou em toda a história foi ver retratado ali o quanto nossa auto estima e auto imagem pode ficar abalada quando estamos apaixonados, ou mesmo só interessados, em alguém. O quanto esse alguém vale pra gente colocar em risco tudo o que levamos anos para fortalecer: nosso amor próprio.

Uma grande amiga conheceu um carinha pelo Tinder. Conversaram por mensagens, telefonaram um para o outro, marcaram um encontro. Depois do encontro, perceberam (ambos) que não havia rolado química. Porém, ao se dirigir para casa, ela foi gradativamente se diminuindo, se amaldiçoando, se sentindo a última das mulheres. Aquele encontro, que tinha cinquenta por cento de chance de dar certo ou não, foi capaz de abalar a auto estima da minha amiga a ponto dela achar que não daria certo com mais ninguém. Um desconhecido, que por um acaso cruzou o seu caminho, tinha sido capaz de fazer vir à tona anos de auto depreciações e percepções equivocadas acerca de si mesma que tinham ficado lá atrás. Porém, a culpa não era dele. Ele tinha sido gentil, educado, cortês. Mas não tinha rolado. Para ambos. Porém, ela se sentia péssima, completamente derrotada. Era como se ela retornasse para casa com um certificado de fracassada.

No início da música que citei, Sierra canta: “Meninas como rosas em vasos de vidro; corpos perfeitos, rostos perfeitos… Se eu pudesse, mudaria durante a noite e me transformaria em algo que você gostaria…” Me comovi demais com a letra e a melodia da música, e acredito que só aqueles que alguma vez já se sentiram no fundo do poço do amor-próprio irão entender Sierra Burgess. Pois às vezes não basta termos consciência de nosso valor. Queremos que o outro, principalmente aquele em que temos interesse, também tenha. Desejamos ser aceitos, mais do que simplesmente nos aceitar. Aspiramos pelo amor do outro, muitas vezes mais do que naturalmente nos amar.

Unanimidade não existe. Em alguns momentos, você terá que aceitar que o fato de alguém não te achar incrível não determina que você não seja realmente incrível. Ele só não reconheceu isso, e tudo bem. A opinião dele é a opinião dele, e você não pode desconstruir a auto imagem positiva que você levou anos para desenvolver só porque levou um fora ou não foi escolhida.

Não é desejando ser rosas dentro de vasos de vidro que seremos perfeitas para alguém. Não é deixando de lado quem somos de verdade, abrindo mão de nossa espontaneidade, que estaremos à altura de alguém. Não é nos colocando à prova e duvidando de todas as nossas qualidades que conseguiremos nos relacionar verdadeiramente com alguém.

Sierra Burgess não tinha o físico perfeito, mas se amava. Se amava muito, e não estava nem aí para o fato de não ser notada, de não ser popular, de não ser da equipe de torcida. Porém, quando se apaixonou, as coisas mudaram. Ela queria ser correspondida, e para isso acabou indo longe demais.

Até onde você iria para ser “aprovado” por alguém? Até onde você se empenharia para ser aceito? Você rastejaria, como se o amor do outro fosse vital? Você fingiria ser outra pessoa? Você abandonaria sua família, seus antigos amigos? Você viveria ansioso, celebrando cada migalha de afeto e atenção? Alguém valeria tudo isso? Alguém teria o poder de te desestabilizar por completo?

Nem sempre seremos correspondidos ou amados como gostaríamos, e vamos ter que aceitar, mesmo que isso nos cause muita dor. Não somos perfeitos, mas agradamos a alguns e são esses que importam.

Siga o seu padrão, ande no seu tempo, respeite suas limitações, aceite suas imperfeições. Ouça sua voz, faça as pazes com suas curvas, seja leve com seu autojulgamento. Nem todos preferem as rosas, nem todos desistem dos cactos, mas quando você descobre a sua melhor versão e se ama assim, você ensina aos outros como quer ser amada. E isso basta…

Fabíola Simões

Escritora mineira de hábitos simples, é colecionadora de diários, álbuns de fotografia e cartas escritas à mão. Tem memória seletiva, adora dedicatórias em livros, curte marchinhas de carnaval antigas e lamenta não ter tido chance de ir a um show de Renato Russo. Casada há dezessete anos e mãe de um menino que está crescendo rápido demais, Fabíola gosta de café sem açúcar, doce de leite com queijo e livros com frases que merecem ser sublinhadas. “Anos incríveis” está entre suas séries preferidas, e acredita que mais vale uma toalha de mesa repleta de manchas após uma noite feliz do que guardanapos imaculadamente alvejados guardados no fundo de uma gaveta.

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