Por Maria Cristina Ramos Britto

Dizem que envelhecer é inevitável, mas ficar velho é opcional. Isso sempre me soou como conforto meio autoajuda, cala a boca, não adianta reclamar, aceite e faça o melhor possível. E dá-lhe receitas e incentivos para os da terceira idade, dicas de alimentação, exercícios físicos, cursos de origami, coral, bailes na matinê, para provar que se está velho, mas não morto. A velhice foi tirada da sala e mandada para a rua, para aproveitar a vida ou, ao menos, o que resta dela. Vovôs e vovós foram convocados a sair da cadeira de balanço e viajar, dançar e, por que não, namorar, no caso dos viúvos. Nichos e segmentos foram criados para atender a uma demanda que os velhinhos nem sabiam que necessitavam e um novo começo surgiu, cheio de possibilidades.

Nada contra todo esse movimento que sacudiu e rebatizou a velhice de melhor idade. Afinal, para qualquer proposta dar certo, é preciso ser vendida em bela embalagem e envolta em fitas coloridas e muito otimismo. Por que não driblar o tempo ou pelo menos tentar enganá-lo um pouco, com as novidades que surgem a cada dia? Dietas, tratamentos estéticos, opções de atividade física, tudo à mão num grande cardápio de opções, para todos os gostos, bolsos e possibilidades, só não aproveita quem não quer. Filhos criados, aposentadoria, tempo de sobra, é hora de usufruir do fruto do trabalho, da dedicação à família, de ser cuidado em vez de cuidar, de se preocupar menos e se divertir mais. Será?

A vida não é um roteiro de filme, não dá para combinar com ela que, se a gente fizer tudo certo, terá uma recompensa, que o caminho será reto como as ações, que, no fim, o que sonhamos estará à nossa espera. A vida não é fórmula matemática, não apresenta resultados exatos e, principalmente, não dá garantias. Mas é tudo isso que a torna fascinante, as surpresas, as reviravoltas, as incertezas, o precisar se reinventar a cada dia, descobrir alternativas e aprender a lidar com o imprevisto. E a velhice não está imune a essa montanha-russa existencial, mesmo com as mudanças que a tornaram menos dolorosa ou difícil.

Novos medicamentos e tratamentos, a expectativa de vida aumentando, a visão do velho como inútil e ultrapassado sendo desmentida por tantos exemplos de idosos que contribuem de várias formas, produzindo e participando de sua comunidade, aos poucos vão espantando o medo da idade como sentença irremediável de prisão a um estereótipo. Mas esse maravilhoso mundo novo da velhice não é para os que sofrem de doenças degenerativas e incapacitantes ou que se encontram sozinhos, por abandono ou outras circunstâncias, como viuvez, perda da família próxima e dos amigos. A solidão acompanha o envelhecer, mas não precisa fazer morada na alma.

As pessoas preocupam-se com bens materiais, o que é compreensível, mas esquecem ou ignoram que também é preciso fazer uma poupança emocional para a velhice. Se o dinheiro é necessário para se ter uma vida digna, a saúde mental é fundamental para uma velhice prazerosa e equilibrada. Quem, ao longo da vida, investir em ressentimentos, mágoas e visão negativa do mundo terá grande chance de colher tristezas e solidão quando mais precisar de companhia e carinho. Mas quem, ao contrário, souber lidar com emoções negativas e frustrações, e a cuidar do seu emocional, passará pela vida com leveza e sentirá menos o peso do tempo.

Maria Cristina Ramos Britto

Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental, trabalha com obesidade, compulsão alimentar e outras compulsões, depressão, transtornos de ansiedade e tudo o mais que provoca sofrimento psíquico. Acredita que a terapia tem por objetivo possibilitar que as pessoas sejam mais conscientes de si mesmas e felizes. Atende no Rio de Janeiro. CRP 05/34753. Contatos através do blog Saúde Mente e Corpo.

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