Fotografia de Rock and Wasp, Shutterstock
A dor nos iguala. A dor remove, aos poucos ou abruptamente, as nossas camadas de proteção. Às vezes, ela é passageira. Às vezes é cíclica. E, às vezes – e isso é o pior que pode acontecer -, a dor é crônica.
Sofrer é inevitável. Tão inevitável quanto ser feliz. Tem épocas que tudo parece funcionar: o relacionamento vai bem; ninguém anda querendo puxar o nosso tapete no trabalho; conseguimos chegar ao fim do mês com algum dinheiro; não estamos doentes; amigos novos acabaram de aportar em nossa vida; até o cabelo anda colaborando. Tudo certo!
Mas tem épocas que viram a vida da gente pelo avesso. Tem épocas que os desafios exigem da gente uma combinação insana de persistência, serenidade e paciência. Ahhhh… a paciência! Como ter paciência quando se descobriu que foi traído; quando o liquidificador, a máquina de lavar roupas e a caixa de câmbio do carro resolvem “dar pau” todos de uma vez? Como ter paciência naqueles momentos em que a nossa paciência já foi esgotada, surrada e derrubada ao chão?
Curiosamente, esses ciclos de “bruxa solta” parecem coincidir com uma fase de sumiço dos amigos, dos familiares e até dos admiradores! Parece que infortúnios são contagiosos. Desaparece todo mundo.
A gente descobre quem é amigo mesmo não é nem quando estamos no auge do sucesso, nem quando somos atingidos por uma grande e meteórica fatalidade. Tem gente que é ótima companhia para festejar conosco, ou servir de testemunhas para nossas catástrofes.
O duro é encontrar parceiros quando a gente está numa situação que persiste em dar errado. Se você sofre um acidente e vai parar no hospital, nos primeiros dias falta até crachá na recepção, de tanta visita que aparece. Agora, experimente ficar internado por dois meses… ou pior, experimente ter algum tipo de problema de saúde que vai e vem. Até o seu celular vai ficar silencioso.
Ninguém gosta de sofrer. Pelo menos, não de forma consciente. Tirando aqueles que sofrem algum tipo de patologia correlata ao prazer no sofrimento, todos nós vivemos atrás de jeitos de não doer, não entrar pelo cano, ter um mínimo de garantia de não estar embarcando numa canoa furada.
Acontece que, muitas vezes, o furo na canoa é imperceptível. E esse mínimo buraquinho – que a gente não viu porque não dava para ver mesmo -, permite que o casco do nosso sonho seja violado.
A coisa começa a dar errado quando sentimos sob os pés a invasão da água de fora querendo vir para dentro. A água, cujo papel era de nos conduzir, vira uma ameaça real. O pior é que, seja por distração, excesso de confiança ou leviandade, não costumamos colocar os perigos na conta do planejamento.
Perigos, assim como a dor e a felicidade, estão ao alcance das mãos para todo mundo. E é bem verdade que ninguém pode sofrer por nós. Mas pode segurar a nossa mão enquanto sofremos. Em incontáveis situações isso é tudo do que mais precisamos: uma mão para segurar e que seja capaz de segurar a nossa.
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