Imagem de capa: Yuriy Mazur/shutterstock
Eu quase fiz isso ou aquilo, quase tive coragem, quase me arrisquei, quase decidi. Eu quase vivi, mas não o fiz porque estava quase indo, quase voltando.
Se alguém te disser que está quase resolvendo uma questão, esqueça ou repense a importância. Quase é nada. Quase é cogitação aguardando a coragem chegar. E quase sempre, ela não comparece.
Quase é o relógio esquizofrênico que anda para frente e retorna, frustrando as horas de quem espera.
Quase é a certeza na promessa que não se concretiza.
Estamos quase lá significa que não estamos em lugar algum. Ou, pelo menos, não aonde gostaríamos. Não há quase que satisfaça, porque não há um quase desejo.
A gravidade do quase se mede pelo tempo que ele consome. Quem diz que está quase resolvendo assuntos ou decisões urgentes não para si, dificilmente percebe como esse tempo do quase se arrasta e consome quem aguarda.
Quem prefere quase porque acha o não muito forte, não sabe o quão forte é a decepção de quem se equilibra na corda do quase. Um tombo bem poderia ser mais honesto.
Quase é frustração, é falso gozo, linha de chegada que se afasta.
-Ah, eu quase contei toda a verdade, mas não encontrei o momento certo…
-Estava quase resolvendo o que combinamos, mas voltei atrás por este ou aquele motivo…
-Quase te liguei, quase te encontrei, quase te mandei aquela mensagem, mas apaguei…
O quase é a bengala da covardia. Uma vez citado na frase, faz o papel de suporte. Também pretende ser um anestésico, já que o quase é suave e o não é rude. Ainda lamenta-se, mas com esperanças de que o quase amadureça e vire ação.
Quase acho o quase inocente, mas em pouquíssimas situações. Na maioria delas, o comparo àquela pessoa educada e de fala mansa, que ainda assim, não hesita em fechar portas e rejeitar o que não lhe convém, delicadamente, ainda que às custas da confiança e paciência alheias.
Na vida de um quase, nada nunca terá firmeza. Mas quase.