Desde as condições de trabalho aos hábitos de consumo, quase todos os aspectos da vida em sociedade vêm sofrendo significativas transformações desde que a pandemia de coronavírus se tornou uma ameaça global. Dentre essas mudanças em curso, uma delas acontece na relação entre marcas e influenciadores digitais. No mercado que um dia já fez de Gabriela Pugliesi uma rainha, hoje se destacam aqueles que, além de vender produtos, se incumbem da missão de exercer outro tipo de influência, estimulando, por exemplo, que as pessoas se informem mais sobre política, que cuidem da própria saúde mental, que colaborem com o próximo em um momento tão delicado para o mundo.
Como bem aponta o jornalista Murilo Bomfim em texto extremamente lúcido para a revista Exame, um dos casos mais marcantes sobre esta transformação no universo dos digital influencers foi o do “cancelamento” — termo usado nas redes para designar um boicote — de Gabriela Pugliesi. A chamada “blogueira fitness” causou polêmica entre seus milhões de seguidores no Instagram após postar fotos de uma reunião com amigos em meio à pandemia.
A partir deste episódio, Pugliesi perdeu mais de 100 mil seguidores, teve diversos contratos publicitários cancelados,o que lhe causou um prejuízo financeiro estimado em 3 milhões de reais, e ainda se viu obrigada a desativar sua conta no Instagram. Assim como ela, dezenas de outros influencers passaram pela “roda do cancelamento” nos últimos meses a partir de deslizes durante a pandemia.
Na contramão disso, é possível observar uma ascenção no mercado publicitário das campanhas estreladas por influenciadores que defendem alguma causa ou que fomentam debates mais relevantes. Um bom exemplo disso exemplo é o recente sucesso nas redes da advogada criminalista e professora universitária Gabriela Prioli, que ficou nacionalmente conhecida ao participar do quadro “O Grande Debate”, da CNN Brasil, e chamar a atenção do público pela sua eloquência, pela segurança e pelos argumentos bem fundamentados e bem defendidos. Como consequência do sucesso, Prioli já fez trabalhos para marcas como Quem disse, Berenice? e Addera, das áreas de cosméticos e farmacêutica.
Além de Gabriela Prioli, se destaca neste movimento que ganha cada vez mais força a influenciadora Nathaly Dias, que se dedica a dar voz às aspirações e às reivindicações das pessoas pertencentes às camadas sociais mais baixas da população brasileira. Conhecida nas redes como Blogueira de Baixa Renda, ela fez parcerias com empresas como Itaú, Heinz, Drogasil, Marisa e Spotify. Assim como ela, Nathália Rodrigues (a Nath Finanças) faz sucesso ensinando as pessoas de “baixa renda” a administrarem o seu dinheiro. Como resultado da sua influência, ela alavancou seus contratos em colaborações com Natura, Cielo, Avon e Tim, entre outras.
“Ambas têm discursos coerentes”, diz a fundadora da Brunch. “O território financeiro é tão importante quanto o de consumo essencial: a partir do momento que o seguidor aprende a lidar com o dinheiro, passar pela pandemia pode ser mais fácil.”, disse à revista Exame Ana Paula Passarelli, fundadora da agência Brunch, voltada para o marketing de influência.
Como tudo na pandemia, este impacto no marketing de influência tem duração incerta. “Gostaria de ser mais otimista e dizer que estamos aprendendo a ter um consumo mais consciente, mas acho que vamos ver um comportamento de revanche, de sair da quarentena querendo consumir mais”, diz Passarelli.
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Imagem de capa: Instagram-reprodução
Redação CONTI outra. Com informações de Exame
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