Acredito que grande parte de nós, ao percorrer os caminhos da vida, é como o adorável “patinho feio” do dinamarquês Hans Christian Andersen.
Nesse conto infantil, escrito em 1843, um filhote de cisne é chocado por uma pata e ao nascer percebe-se diferente dos demais filhotes. Dessa forma, cansado de não ser aceito pelos mais próximos, o patinho feio “cai no mundo” em busca de identidade e de pertencimento. Ele anseia por descobrir quem é, por encontrar outros que o aceitem, compreendam e compartilhem ideais, sonhos e projetos com ele.
O patinho caminha rumo ao seu crescimento, algo que se dá de forma gradativa, longe daqueles que não aceitam suas características individuais, características tão especiais.
No final da estória ele reconhece sua grandeza ao encontrar aqueles que se afinam consigo. Algo traduzido no texto através de animais de sua mesma linhagem. Assim, ao olhar para os que carregam uma essência tão próxima da sua, o patinho se volta para seu interior, reconhecendo nele e nos que lhe são comuns princípios próprios para a formação de uma família real, fundamentada no carinho, aceitação e principalmente amor e amizade.
Muitas vezes nossa família de sangue não compreende bem nossa busca pela individualidade e nesse caminho, a princípio solitário, nos afastamos dos que têm o nosso mesmo sobrenome e encontramos amigos caminhantes assim como nós. Alguns deles ficam por um tempo e depois partem rumo a um destino diferente do nosso. A distância aumenta, mas o carinho perdura para sempre; outros ficam por um longo tempo e acompanham nosso crescimento bem de perto.
Sozinho nenhum de nós pode se enxergar de forma plena. O caminho pelo conhecimento, pela busca da nossa felicidade, pela descoberta de quem somos e o que realmente queremos, é um caminho que quase sempre começa com uma angústia solitária, mas que comumente termina no amparo coletivo.
Essa jornada começa com a impossibilidade de ficarmos onde estamos, de compartilharmos impressões propriamente nossas com os que estão no entorno e nos são familiares. Esse caminho de individualização começa com o mergulho em nossa natureza, para que, uma vez conscientes de nossos valores, possamos encontrar outros assim como nós.
Ao tocarmos nossas reais aspirações, algo que não é compulsório, mas fruto de muita reflexão, estamos por fim preparados para reconhecermos os amigos do peito, ou melhor, amigos cisnes em nosso caminho.
Amigos cisnes são a família que fazemos. São aqueles com os quais temos intimidade e que, sem julgamentos, nos acolhem em dias frios, nos acalentam com palavras carinhosas, nos emprestam os ombros para que choremos nossas dores. Amigos cisnes sabem quem realmente somos, nos aceitam assim e estão ao nosso lado nas horas boas e nas não tão boas. Amigos cisnes veem de longe quando nos equivocamos e nos orientam acerca do nosso valor e da importância do amor próprio. Amigos cisnes nos levantam quando caímos e não nos deixam desistir de nossos sonhos. Amigos cisnes são aqueles que propositalmente escolhemos para estar ao nosso lado.
Na vida, um mesmo ninho ou melhor, um mesmo sobrenome, pode não dizer muita coisa. Comumente precisamos sair de perto de pessoas com as quais temos algum parentesco para verdadeiramente crescermos. Uma família existe onde há laços duradouros de amor; onde há laços profundos e verdadeiros de amizade. Uma família muitas vezes se faz através de nossa iniciativa de nos aproximarmos de pessoas que compartilham conosco de uma mesma essência.
Acompanhe a autora no Facebook pela sua comunidade Vanelli Doratioto – Alcova Moderna.