Quando leio grandes cronistas como Luis Fernando Veríssimo, Martha Medeiros, Xico Sá, Walcyr Carrasco, Ivan Martins, ou ainda descubro outros novos que ainda não são tão conhecidos para além das redes sociais, sempre penso que as crônicas são mesmo ótimos presentes que ganhamos das pessoas e situações. Vejo que me satisfazem mais que incontáveis gentilezas materiais.
As melhores crônicas que li, ou talvez as que mais prenderam a minha atenção falavam sobre coisas aparentemente banais, vindas de um cotidiano real ou imaginário, de substâncias originais: com vida própria e independente de qualquer padrão que a sufocasse no eu-no-espaço-tempo. Costumamos chamar de liberdade essa criação independente de rótulos.
Escrever é doar-se ao mundo. Frase curta e forte, que nos faz refletir sobre o que queremos escrever, para quem, e como gostaríamos de ser lidos e interpretados. Transformar palavras isoladas em construções que ergam amplos e ricos diálogos é uma grande responsabilidade. É como pisar em ovos.
O início da crônica é tantas e tantas vezes pensamentos soltos e sem aparentes conexões, mas que buscam a mínima disposição para alavancar a história ou um relato banal e colocar em prática algo que pode fazer um bem enorme para quem lê. É quando percebemos que temos algo que precisa ser dito, mostrar-se ao mundo, embora nem sempre seja compreendido com a necessidade que sentimos: a totalidade do contexto interior no enredo completo.
Muitas vezes basta fechar os olhos e ouvir um diálogo peculiar de um mundo todo vivo que vibra dentro da gente. E surge a necessidade de contarmo-nos. Sim, contar a quem estiver por perto ou quem for alcançável como é esse mundo aparentemente tão estranho e que é tão mágico até ganhar o corpo real das palavras. Ou pode acontecer o contrário: o mundo que é tão cru e real até ganhar o corpo mágico das palavras. A escolha é de quem já conhece toda a trama.
O que pedir então da nossa vida que tem tanto a dizer? Que venham muitas crônicas que falem desse cotidiano que nos chega tão real e ao mesmo tempo tão invisível. Queremos sempre a palavra exata para expressá-lo e que nos faça entender essa dimensão palpável dos dias. Desejamos ir além dos gestos corriqueiros através das nossas histórias e aventuras que podem criar universos envolvidos pelo sentido humano.
Ah, mais um pedido: corpo e mente renovados, que se doem a cada dia para animarem as nossas crônicas, ora dramáticas, ora trágicas, ora cômicas, ora indefiníveis.
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